quinta-feira, novembro 01, 2007

Coisas tristes

Ao que parece Moçambique recusou a oferta de um camião do lixo com 25 anos da CM do Porto, afirmando que não precisam do nosso lixo e que por lá só se usa do novo e do melhor, e ainda que os Europeus nos últimos tempos andam a pensar que podem mandar para África todo o lixo que já não tem utilidade. Afirmação que me parece acertada, mais que não fosse por tratar-se mesmo de um camião de lixo. É deveras triste ver esta mentalidade tuga de dar ao africano os restos do prato como que pagamento dos anos de colonialismo, mesmo que eles digam que não apreciam a oferta. E por cá se vai formatando cabeças, mais por falta de actualização das politicas de ensino, do que propriamente por conspiração. É que toda a maquina pensante do sistema português só daqui a 10 ou 20 anos é que vai-se aperceber do que é que isto quer dizer, e nessa altura vão gritar bem alto "Eureka!" como se tivessem descoberto a pólvora. Tristes iluminados, que não fosse pelo mal que causam aos outros, dariam mais dó do que revolta pelas injurias que realizam contra a memória e o património do nosso povo.

Infelizmente está fora de questão poder manda-los para África, visto que nem mesmo os africanos os aceitam pois já passaram dos 25 anos no poder.

quarta-feira, outubro 31, 2007

Coisas engraçadas

quinta-feira, outubro 25, 2007

Novilingua ou a decadência da sociedade?

Chamou-me à atenção este assunto ao tomar consciência num noticiário televisivo, da pobreza, tanto de vocabulário como das construções morfológicas, das frases com que os jornalistas nos apresentam diariamente os acontecimentos que vão no mundo. A linguagem coloquial parece ter desaparecido da nossa vida. E interrogo-me se terá sido sempre assim e isto é um mero efeito circunstancial; ou se, de facto, o resumo do vocabulário que se observa hoje em dia é mais do que um resultado sintomático de uma qualquer teoria da conspiração tecida pela ardil paranóia pública. Voltando aos tempos idos, basta pegar num texto vulgarmente conhecido para testarmos a primeira hipótese. As “Trovas” escritas no século XVI por Bandarra, consistem num texto literário e profético sobre os desígnios, quiçá espirituais, de Portugal. Bem sei que foram reescritas inúmeras vezes alterando-se vocabulário, além de que a edição de que disponho não será nem de perto nem de longe, a mais antiga. Mas de qualquer modo servirá de exemplo enunciar aqui alguns versos do texto que servirá para ilustrar o que digo. “Como nas Alcaçarias / Andam os couros ás voltas, / Assim vejo grandes revoltas / Agora nas Cleresias. / Porque usam de Simonias / E, adoram os dinheiros, / As igrejas pardieiros, / Os corporais por mais vias” (Gonçalo Annes Bandarra, As Profecias do Bandarra, Mem Martins, Novalis, 2001, p.11). O texto prossegue por várias páginas num tom que dizem os entendidos ser popular e de fraca qualidade literária. Não quero por em causa a questão da pobreza das trovas em termos literários. Mas é preciso pensar que o seu autor não passava de um sapateiro que tinha a sorte de ter aprendido a ler e a escrever. A ideia que temos desse tempo é que o povo era todo ignorante, de dentes podres e a cheirar mal. Que a sua instrução era nula e completamente desconhecedora dos conhecimentos das ciências e das humanidades. Ora, neste tempo, surgiu um sapateiro em Trancoso que sabia ler e escrever; e mais, escreveu um livro em língua portuguesa, dos mais lidos de sempre. Estranho este facto, deveras. Mas isso não será objecto neste momento. O que nos interessa aqui é esclarecer, não o ponto de vista do autor, mas o ponto de vista dos seus leitores ao longo da história. Como é que um povo pobre em vocabulário demonstra tal interesse na leitura de uma obra tão rica de vocabulário e ainda por cima de registo histórico? Sim, porque a pobreza literária das trovas não se relaciona com a riqueza do seu vocabulário, parece-me. Escolhi esta obra precisamente por isso. Não um Camões clássico de vocabulário rebuscado. Mas um simples Bandarra, pobre literariamente, para comparar com o vocabulário comummente utilizado na época actual. Comparamos assim pobreza com pobreza e já levando em conta as alterações linguísticas que a língua sofreu ao longo dos tempos. Outro autor, talvez menos polémico que poderemos chamar à cena é Gil Vicente. O dramaturgo do povo possuía, este sim, grande qualidade nos textos que escrevia. E no entanto era popular e parecia que todos entendiam o que os seus actores diziam, apesar do seu vocabulário indiscutivelmente rico. Era aplaudido pelo povo português que muito se ria dos comportamentos das suas personagens tipo construídas de forma quase anedótica. Quererá isto dizer alguma coisa? Em primeiro lugar, talvez que de facto a língua portuguesa esteja a sofrer uma contracção no seu vocabulário e na composição da sua estrutura sintagmática. Em segundo lugar, que essa teoria, pode ser relacionada com fenómenos do tipo politico, social e cultural, mas também económico, religioso, etc., aquilo que Marcel Mauss designou por facto social total.

George Orwell em “1984” descreveu um mundo onde a ditadura do pensamento único e do pensar-crime imperavam, liderados por uma redução drástica do vocabulário dos habitantes. Uma das personagens é mesmo profissionalmente especializada na criação de um dicionário que reduzisse as palavras ao mínimo indispensável, com o fim de evitar pensamentos “supérfluos”, perigosos para o bom funcionamento de tal sociedade. Não iremos tão longe nas nossas especulações. Deixamos isso no entanto como hipótese de desenvolvimento futuro. Gostaria de enveredar por outro caminho mais naturalmente lógico. O do nascimento, desenvolvimento, e morte das sociedades. Tudo quando nasce é pequeno, tudo cresce e tudo se corrompe fisicamente pelo tempo até ao momento do seu desaparecimento material. As sociedades são uma espécie de criaturas vivas e temos conhecimento das grandes civilizações do mundo que assim lhes aconteceu também. Nasceram, cresceram, imperaram, dominaram, e envelheceram acabando por se definhar um dia. Quero crer que a língua acompanha este processo. Quando nasce é limitada a alguns termos. Cresce e desenvolve-se junto com o seu povo e um dia comprime-se e acaba por cair em desuso com a sua extinção. Portanto, a língua é um indicador excelente do estado de uma civilização. Quando é rica é porque as suas gentes estão em grande expansão; quando começa a ser pobre indica-nos a decrepitude cultural de uma sociedade que estará brevemente em vias de extinção.

Se a nossa riqueza liguística está a perder-se, a lição não deixa de ser deveras preocupante. Algo se passa. E ainda que muita gente de fora fale a mesma língua, não é isso que faz a sua riqueza e simultaneamente a preservação da existência do seu povo. Por vezes até poderá acontecer precisamente o contrario. Pois à corrupção de uma língua misturada com outras línguas corresponde uma perda de raízes culturais verdadeiramente genuínas e que, se por momentos ainda dão o ar da sua graça, não podem esperar pela actuação do tempo quando as verdadeiras identidades nele se perderem. É assim que olhamos para trás e não sabemos nada acerca de nós próprios. Ficarão os frutos e morrerão as árvores. Mas os frutos nada serão sem as árvores.

quinta-feira, outubro 18, 2007

A DROMOLOGIA, O AUTISMO E O PODER

A Dromologia, termo proveniente do grego “dromos”, é a ciência ou lógica da velocidade. Baseia-se no facto de que o acontecimento sofre alterações na sua própria estrutura dependendo da velocidade a que se dá.

As guerras actuais, a fome, a morte escandalosa dos outros, já não nos afectam mais como antes dos meios de comunicação de massas nos manterem actualizadamente informados, principalmente pelas imagens à velocidade da luz, de tais factos. O acontecimento deixou de produzir em nós o efeito de choque e de surpresa que produzia outrora. Vivemos na sociedade do tédio e contudo nunca antes a sociedade foi tão cheia de acontecimentos. A nossa sociedade existe à escala global, onde permanentemente somos informados de tudo o que de supostamente relevante se passa em qualquer coordenada geográfica do globo terrestre. Mas esta velocidade e quantidade a que a informação chega até nós vacinam-nos contra a própria essência do conceito “acontecimento”. Ele mesmo deixou de o ser à partida porque se encontra desvirtualizado da sua própria definição.

Neste jogo de velocidade a que o facto acontece, gera-se uma hierarquia de poderes. Segundo Paul Virillo (Speed and Politics: An Essay on Dromology. New York: Semiotext(e), 1977 [1986]) o que se move rapidamente ganha poder sobre o que se move lentamente. A Posse, o poder, diz mais respeito a questões de controle de circulação e movimento, do que de contratos e escrituras. Quem se move rapidamente adquire o poder. Pelo contrário quem está parado, perde-o. E quem domina a velocidade igualmente, adquire o poder e vice-versa. Esta é a grande explicação para que os mass-media detenham o poder que detém actualmente. Eles dominam o poder de transmitir o “acontecimento” à velocidade da luz.

Mas isto não se passa sem o efeito perverso apontado anteriormente – o efeito da velocidade ser tão grande que faz com que o próprio objecto perca o seu impacto, e consequentemente a sua importância na sociedade. Dá-se assim lugar a uma nova hierarquia de importância de acontecimentos baseados numa nova escala de valores morais. Porque estando o acontecimento distante do espectador, este não é afectado de modo directo pelo primeiro. A vida humana singular, alvo da maior importância no passado, perde valor em proveito de factos muitas vezes despersonalizados de conteúdo mais ou menos pertinente para a sociedade em geral. Mesmo quando a vida humana está em questão, são normalmente as questões de coscuvilhice mesquinha que despertam a curiosidade do público. Tornamo-nos espectadores da morte e da desgraça alheia. E nisso, a única coisa que nos importa é saber o enredo do caso, como se de um livro policial se tratasse, para comentar com o colega do lado no emprego. O aspecto catártico deste fenómeno não pode ser descurado. Emitimos as nossas opiniões sobre o caso, afirmamos os nossos juízos de valor, realizamos todas as nossas catarses, mas não nos preocupamos com o que verdadeiramente está em causa – o sofrimento alheio. Nada nos diz. Este actual autismo do espectador resulta portanto da rapidez, quantidade, e modo de informação que lhe chega diariamente. E esse autismo é simultaneamente a sua defesa para se tentar manter equilibrado. Face ao movimento rápido da sociedade, o homem actual não consegue processar emocionalmente toda a informação que lhe chega porque isso lhe traria o colapso nervoso. Necessita portanto de se manter afastado emocionalmente dos acontecimentos para manter o equilíbrio e prosseguir a sua vida normalmente. Esta serenidade e impavidez face à morte, à desgraça alheia, resulta numa dormência verdadeiramente autista e esquizofrénica, mas que é a solução psico-social encontrada pelos indivíduos para o problema. Assim se geram seres humanos passivos, completamente controláveis pelo poder instituído. E há que dizê-lo: existe um aproveitamento pelo poder deste estado de letargia social. É através dele que o próprio sistema político e económico se mantém sem grandes interferências da população vencida além do mais pelo cansaço de se manter equilibrada face à velocidade da História.

sábado, outubro 13, 2007

Mais uma das maravilhas da globalização

Por motivos que em grande parte se prendem com a alta de preços nos mercados internacionais, a factura de bens alimentares de primeira necessidade será mais pesada para os portugueses, tornando ainda mais difícil a vida dos agregados familiares com menos rendimentos.

Até Janeiro de 2008, o pão subirá cerca de 30%, disse ao Expresso Carlos Alberto Santos, presidente da Associação de Comércio e Indústria de Panificação, Pastelaria e Afins. Um acréscimo gradual, não drástico. Aquela previsão assenta no pressuposto de haver estabilidade nos mercados internacionais. Recorde-se que desde o início do ano o pão já aumentou 20% no preço de venda ao público.

Mas o pão não esgota o "stock" de aumentos. Outros bens - como leite e derivados, ovos, azeite ou carne de vaca - registarão subidas significativas. Nenhuma entidade contactada arrisca uma previsão, mas fontes da indústria agro-alimentar apontam para acréscimos entre os 5% e os 10%.

A escalada de preços das matérias-primas deve-se a factores externos (alterações climáticas, procura de biocombustíveis, aumento do consumo na China e na Índia). O aumento médio dos custos nos mercados internacionais dão a dimensão do fenómeno: cereais, 30% a 50% no último ano; milho e arroz, 50% em ano e meio; óleos vegetais, 25% em idêntico período.

Estas subidas apenas se repercutiram parcialmente no valor a pagar pelo consumidor. Mas o resto será uma questão de tempo.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Não há correio

Hoje passei pelo site do Correio da Manhã e dei lá de caras com uma noticia de um rapaz que foi assassinado em Barcarena por quatro «jovens» quando se preparavam para assaltar um automóvel. Como a noticia tinha o intuito apenas de promover a venda do jornal em papel e havia mais texto nos comentários do que no artigo do jornal decidi participar, focando a questão que mais me tinha chamado a atenção, precisamente o facto do artigo se referir aos criminosos como jovens, apesar da vitima ser um jovem.

O comentário nada tinha de insultuoso, nem tão pouco nenhumas referencias xenófobas ou racistas, pelo menos implicitamente, já que do intuído sou suspeito para falar. Pretendia apenas referir que começa a tornar-se cómica toda esta sobre utilização do vocábulo "jovem" para definir os autores de crimes, maioritariamente e muito dificilmente comprovável para a opinião pública, originários de países fora do continente europeu. Relembro-me do caso dos romenos, do francês, do espanhol que foi apanhado para os lados da figueira da foz e de tantos criminosos europeus em que é dita explicitamente a nacionalidade. Quanto aos sul americanos já existem mais algumas reservas, mas nada que se compare ao tratamento dado aos indivíduos de etnias africanas. Claro que tentei ser o menos incisivo possível no meu comentário, pois já sabia que dificilmente passaria no filtro devido às normas impostas pela UE aos média há alguns meses atrás, que regulamentam que nestas situações devem ser usados termos do mesmo cariz para ocultar elementos que possam levar a que hajam reacções mais xenófobas numa sociedade, em que todos os esforços políticos são para uma formatação "híbrida", termo utilizado em comunicado da própria UE.

Não sei se realmente os indivíduos não são europeus, sei que me censuraram e não por violação de nenhuma norma da livre expressão. Pois se a moderação de comentários com carácter insultuoso faz sentido, para mim ela ultrapassa todas as marcas de um estado onde os cidadãos são livres, quando se começa a aplicar a opiniões de carácter ideológico que respeitam as leis democráticas.

Já tinha conhecimento de alguns casos destes nas caixas de comentários do correio da manhã, infelizmente não é caso único, e já merecia a atenção popular e algum tipo de observatório que identificasse a censura que existe em Portugal nos nossos dias. Se alguns se questionam quanto ao nosso "estado de direito" eu não tenho dúvidas nenhumas, apenas não é tão fanfarrão como outros no passado.

Por isto e para que a situação do André Coelho não se torne cada vez mais uma coisa do quotidiano de toda gente neste país, o blog do canto da cotovia vai tentar reunir situações de censura ideológica que vão aparecendo por aí.

quinta-feira, setembro 27, 2007

Afinal o homem nem era assim tão mau como isso.

Lembrei-me agora do comentário que numa reedicção de um cd de motorhead: "Afinal isto nem era assim tão mau", ou coisa parecida. É que eu nem gosto muito de Motorhead, mas há coisas que não podemos deixar de dar razão.

domingo, setembro 09, 2007

Dividir para Dominar

Dividir para dominar. Uma regra que imperou durante toda a época colonial é agora novamente posta em acção. Não no espaço do “Outro” mas no lugar do “Eu”. Um povo unido entre si é sempre uma criatura monstruosa que dificilmente se pode controlar à nossa própria vontade. Se “o povo unido jamais será vencido”, a verdade é que nunca até agora as nações ocidentais se encontraram tão fragmentadas no seu interior. Não há uma identidade colectiva forte que faça os indivíduos sentirem-se parte de um grupo geral à escala nacional. O conceito de pátria caiu em desuso e parece-nos até mal que alguém o invoque, sob pretexto de se tratar de uma ideia “fascista” e reaccionária. Dentro dos nossos países está, portanto, cada vez mais, a desaparecer a consciência de nacionalidade. O que existe são pequenos grupos, associativos, ligados a causas temáticas, e que possuem uma voz relativa naquilo a que chamamos de democracia. Estes grupos de identidades são no fundo os fragmentos que constituem a renda societária, mas que contribuem mais para a divisão do todo do que para a sua unidade. Se existem relações de cooperação entre alguns, outros ignoram-se entre si, e outros ainda disputam entre si pequenas questões sempre ligadas a demonstrações do poder que cada um possui (um poder raramente revolucionário, mas mais de esferas de influências e de redes de compadrios). Não há nada, em nenhuma circunstância, que mobilize todos estes pequenos grupos para um mesmo objectivo comum. Isto porque à semelhança das ideologias, as grandes causas desapareceram das últimas gerações. Contentamo-nos com o sistema político “perfeito” que estamos convencidos ser o que possuímos. Porque é isso que nos é dado todos os dias pelos mass média e pela socialização de que somos alvo, como um dogma que jamais poderemos por em causa.

É esta fragmentação da sociedade em células de pequenos grupos, ou mesmo familiares ou individuais, que o nosso poder político se baseia para poder dominar. À medida que a sociedade cresce (não por via do aumento dos nascimentos dos autóctones, que se sabe serem catastroficamente diminutos, mas por via da imigração massiva), esta divisão dos indivíduos é fundamental para que o “monstro” se torne dominável. “Dividir para dominar” continua a ser uma máxima do “príncipe” tão maquiavélico como a própria personagem, já que é pela fragmentação das identidades grupais em pequenas células, que se desmobiliza os indivíduos de agir e até de pensar. Reservam-se assim as catedrais do consumo, centros comerciais e hipermercados, para o gasto “supérfluo” de energias nocivas à manutenção do sistema. Se em algumas épocas históricas se procurava lutar contra o sistema, neste momento toda a energia é gasta em tentar entrar no sistema e ser aceite por ele. O sistema é mau, mas ficar fora dele é pior. Lutar contra ele é suicídio. Vivemos dominados pelo medo de não sermos aceites. De ficarmos de fora, de não arranjarmos emprego, de não termos casa, de passarmos fome. Ou seja, estamos preocupados com as nossas necessidades básicas. A vida não está assegurada para ninguém. Não há supostamente censura, não há supostamente perseguição política, mas vivemos dominados pelo medo. E este medo vem da insegurança que o actual estado de coisas nos provoca. O Estado cada vez mais se demite das suas obrigações para com os seus cidadãos. Estes por sua vez possuem cada vez mais obrigações do que direitos. O medo é neste momento, o mecanismo gerador de estabilidade social. Não provém das mesmas situações que no passado ditatorial, mas provém de novos mecanismos sociais repressores que agem no indivíduo de forma mais ou menos consciente. Esses mecanismos são essencialmente a dependência dos indivíduos do sistema para a sua própria sobrevivência. A economia de mercado capitalista fez as pessoas dependerem totalmente do trabalho assalariado para sobreviver. Não há maneira de escapar disso. Por outro lado os níveis catastróficos de desemprego desarmam-nas completamente de poderem agir contra o que quer que seja, e destituem-nas do que mais sagrado há na sobrevivência que é a capacidade de lutar por ela mesma. A protecção social é diminuta, a família adquire cada vez mais, menor importância. O individualismo é-nos imposto pelo sistema como uma condenação ao degredo. Um individualismo em que é cada um por si e cujo assassínio dos Deuses não permite que alguém seja por todos. O Homem pós-moderno, é um homem reduzido à consciência de ser unicelular. É um Homem agorofóbico, sem referências protectoras da sua condição frágil na vida. Somos crianças envelhecidas prematuramente que permanecem crianças mesmo após a idade adulta. E somos nós as células deste tecido social doente, sedento de renovação e de transformação, mas que a sua desfragmentação cultural e inconsciência política, a sua anomia paralisante e castradora não permite a realização daquilo que todos nós secretamente desejamos. Fica a ideia de que decerto um dia lutaremos com as armas que nos restarem então. E nesse dia acordaremos para uma nova realidade que já é sonho dentro de nós.

sexta-feira, agosto 31, 2007

O Arquivista II

“As cidades obscuras – Relatório sobre um curioso caso de superstição. Por Isidore Louis. Investigador do instituto central de arquivos. Subsecção de mitos e lendas”. É assim que se inicia o relatório do arquivista. Ele terá de analisar certos documentos arquivados com o fim de completar a reclassificação dos mesmos. E estes documentos relativos às cidades obscuras são documentos místicos cuja data de criação não é recente. Tal como ele próprio afirma mais à frente: “Era visível que a mistificação não datava de ontem” (p.8).

O título da investigação de Isidore – “As cidades obscuras” – remete-nos para algo que se passa à margem da normalidade - “Devo confessar que eu próprio tinha uma ideia algo confusa daquilo que esses termos poderiam envolver, e não me parecia que as pesquisas que então iniciava fossem diferentes das dos meus trabalhos anteriores”(p.8). Mas, ao contrário do esperado, logo à partida a anormalidade da situação diferencia-a das restantes e constitui um motivo suficientemente forte para que nos entreguemos à leitura do relatório de Isidore. Tal como o arquivista, nós próprios somos presas de algo interessantemente novo e inesperado.

Isidore “desenterra peças” de dentro dos documentos que analisa abrindo-nos a um imaginário totalmente desconhecido do público geral sobre o que pode constituir o trabalho de um mero arquivista. Neste aspecto vemos a coincidência entre o imaginário e a realidade, pois entre o sonho de uma profissão e o seu quotidiano, sabemos vai um passo. Mas Isidore encontra a sua realização profissional fazendo coincidir ambos os planos numa só dimensão.

As “peças” que Isidore desenterra são documentos “apócrifos” que “não se distinguem, à primeira vista dos restantes”(p.8). É curioso o conceito de documento apócrifo aqui utilizado, pois se pode tratar-se de um documento sem autenticidade, cujo autor, ou lugar, ou data, não é verdadeiro, igualmente se refere aos escritos que se dizem inspirados por Deus, mas não incluídos no cânone bíblico por serem de autenticidade suspeita. Portanto, estamos aqui perante uma duplicidade quanto à verdadeira identidade dos documentos que Isidore Louis analisa – documentos (textos e imagens de técnica invulgar) de autoria incógnita; documentos que poderão estar directamente relacionados com o mundo divino, supra-natural. Somos assim introduzidos ao tema que se nos revela como fracção de um puzzle meio divino, meio surrealista, que a pouco e pouco vamos montando.

Multi-culturalismo

O termo "multi-culturalismo" parece indicar a coexistência pacífica de várias culturas num mesmo local ou sujeito. No entanto, o "multi-culturalismo" irá conduzir à massificação total dos indivíduos seguindo a tendência da globalização a vários níveis (económica, política, cultural, demográfica e genética), e consequentemente à morte do "Outro". (vidé: post anterior)

Reflexões sobre o fundamentalismo islâmico e o multiculuralismo Ocidental

O fundamentalismo islâmico [sunita], baseado como todos os fundamentalismos, numa leitura literal e manipulada dos livros sagrados, pode ajudar-nos a perceber e sentir aquele que foi o fundamentalismo cristão da Idade Média.
A partir do séc. IV/V, o esoterismo operativo do mundo ocidental perdeu-se, resultante da decadência do Império Romano e concomitante repressão religiosa, de tipo totalitário encetada pela nova religião oficial - um cristianismo ortodoxo (orto - recta; doxa - opinião) que nunca pretendeu renovar o ciclo anual das festividades, mas sim acabar com todo o culto não cristão (e ainda que se tenha absorvido muito das antigas práticas, perdeu-se a raiz esotérica desses cultos e dos simbolos a eles agregados, além de que se diabolizou toda a tradição pré-cristã do ocidente).
A perda, rejeição e diabolização do pensamento esotérico afectou, inclusivé, a área científica. Houve uma regressão profunda. Por exemplo, a esfericidade da terra encontra-se referenciada em muitos textos sagrados de povos antigos como no Popol-Vuh do antigo México pré-colombiano. No mundo clássico era afirmada por Pitágoras, Platão, Aristarco de Samos, entre muitos outros. Erastótenes calculou mesmo experimentalmentee o perímetro da terra, errando apenas em cerca de 200 quilometros. Contudo, essa teoria foi considerada pela corrente que vingou da Igreja Católica, como "falácia inventada pelo Diabo".
Ora, vivem-se tempos actuais em que esta incapacidade para aceitar o "Outro" está particularmente dinamizada pelo ódio de certos povos às culturas estrangeiras. Os motivos serão vários, sem ou com razão. Mas o problema é demasiado grave e requer mais do que meras opiniões e estudos laterais. Requer trabalhos antropológicos sérios sobre o tema.
Não poderemos no entanto fixar-mo-nos apenas de um lado da questão, e procurarmos somente as razões que levam umas culturas a odiar as outras, as quais desenvolvem muitas vezes complexos de culpa levando-as à submissão total face à raiva e agressões das primeiras. Quero com isto dizer que, respectivamente ao fundamentalismo islâmico, os ocidentais não podem continuar numa posição de "agachamento" face às agressões que vai sofrendo. Se o Islão requer entendimento, de igual forma as culturas ocidentais o necessitam, até porque já foram sobejamente agredidas no passado pelas sucessivas aculturações resultantes das invasões históricas que sofreram.
O multiculturalismo parece-me ser uma fórmula demasiado simplista e errada de resolver o problema, já que verdadeiramente não agrada a ninguém - nem ao Ocidente; nem ao Oriente. É precisamente contra a aculturação levada a cabo pelo Ocidente que o fundamentalismo islâmico se insurge. Eles não querem a roupa, nem os objectos, nem a comida, nem as ideias nem a religião do Ocidente. E estão no seu direito. Têm razão porque querem fazer prevalecer a sua identidade cultural. Mas e o "Ocidente"? esta mescla de estéticas já sem significação cultural própria de raiz? que dizer da atitude que se tenta cultivar nos povos europeus, por exemplo, onde um mesmo sujeito mistura em si comportamentos miscigenados e importados de vários pontos do globo, com os quais não tem nenhuma afinidade cultural, a não ser aquela que é veiculada pelos média? A aculturação dos ocidentais pelo "Oriente" está a ser levada a cabo desde que os contactos entre ambos se iniciaram. Há séculos que isso acontece. E isso foi positivo no enriquecimento do património cultural de todos, parece-me. No entanto, a forma massificada como isso se processa actualmente e a veemência com que o Oriente se impõe no contexto europeu, obrigando os ocidentais a conviver diariamente com hábitos de culturas estrangeiras, nunca trouxe perspectivas tão catastróficas para o seu futuro. Não pretendo sequer desenvolver a tese demográfica e genética que aponta mesmo para um desaparecimento total dos europeus em substituição de descendentes cada vez mais multi-raciais. Mas essa é uma das muitas questões que nunca são seriamente encaradas e que pelo contrário permanecem veladas à nossa consciência devido aos nossos complexos históricos ainda resultantes do nosso passado recente.
E porquê defender uma identidade cultural própria? Do mesmo modo que as pessoas necessitam de ter um passado em que se reconheçam, assim é também com as culturas, pois é pelo nosso passado que tiramos lições para o futuro. Aprendemos com as nossas experiências, reconhecemos o nosso rosto nos traços faciais dos nossos pais, sabemos o que herdamos de positivo e agradecemos-lhes por isso. A História fundamenta o presente. Saberemos quem somos, se não soubermos de onde viemos? Certo: não temos de viver de acordo com o nosso passado. Mas teremos de reconhecê-lo sempre que nos quisermos afastar dele. De um modo ou de outro, precisamos sempre das nossas tradições, dos nossos costumes, da nossa língua, da nossa forma de pensar, por todos os motivos indicados e, ainda, porque quando todos formos iguais ao "Outro" não vai haver "Outro" no mundo. Isto leva-nos à questão da massificação, que é em ultima instância aonde o multi-culturalismo nos conduz. o Multiculturalismo não é a aceitação do "Outro". É o seu desaparecimento, a sua morte. O "Eu" vai imperar sobre a Terra como um mar imenso de gente com o mesmo nome. Mas não vai ser o "Eu Ocidental" ou o "Eu Oriental" que vai ganhar esta guerra. Vai ser um "Eu" novo, sem passado, sem raiz, sem identidade verdadeiramente fundamentada. Vai ser uma "coisa" criada pelo poder que desde já está a ser posto em marcha pelo poder político. O Homem Novo, não vai saber de onde veio, nem para onde vai.


sábado, agosto 25, 2007

(1)

Hoje estive para escrever ao Abrupto para dizer que realmente para aprender a ceifar não há melhor sitio do que no PS ou no PSD, vamos a ver se o Pacheco Pereira escreve 19 artigos sobre o caso somague, ou se já acabaram as colheitas. Gosto muito destas moralidades que param à porta de casa, ou que pelo menos perdem o vigor, sendo substituídas por um ar mais paternalista.
Nota positiva no entanto para o comentário que faz sobre o bem e o mal, os grandes
males desta sociedade acontecem devido aos maniqueísmos. A ver vamos se os militantes do BE da próxima se fazem acompanhar de um Corão para combater os infiéis.

domingo, agosto 19, 2007

Do outro lado do espelho

Esta semana estive a rever o "V de vendetta" e fiquei com a sensação de que estive a dormir quando o vi pela primeira vez, já que não conhecia a obra em que foi baseado o filme.

Isto pode dever-se a ter visto o filme para primeira vez sem ter noção de que seria uma obra com um forte carácter intervencionista de âmbito politico-ideológico. Claro que era um filme que apelava aos instintos revolucionários de muitos de nós, mas é comum isso acontecer em muitos filmes que se ficam por aí. No entanto, desta vez já ia "com ela fisgada", especialmente porque tinha uma comichão de tentar perceber a fonte de todo este sentimento revoltoso que existe na nossa sociedade, e que parece aspirar apenas à destruição da nossa democracia, como se isso fosse o fim último. Parece que pior não podemos ficar, pelo menos é o que é dado a entender.




Pois desta vez a mensagem apareceu-me absurdamente clara, parecia que estava a olhar exactamente para onde devia olhar, o que nem era difícil desde o inicio. São este tipo de coisas que por vezes até nos fazem pensar se estamos a testar convenientemente a nossa percepção.


Conseguimos ver sempre o que nos põem à frente dos olhos mas apenas se já tivermos sido alertados para o "domínio" a que determinada coisa pertence. Por exemplo no filme 300, toda a polémica que antecedeu o lançamento do filme deixou a maioria das pessoas já preparadas para procurar sinais de uma determinada ideologia no filme (aposto que o sangue que aparece na imagem do 300 lhe parece mais grotesco do que o do V). No V de vendetta não aconteceu nada disso. Curiosamente são ambos baseados em obras de banda desenhada, mas de extremos diferentes.

No V de vendetta além do "ícone" do filme e do herói ser a inversão do símbolo anárquico (imaginem porventura se o do 300 fosse uma suástica), uma das coisas que me chamou mais a atenção foi o facto do herói matar policias brancos no papel de maus da fita. Bem que tentei procurar policias "multiculturais" mas não encontrei nenhum, eram realmente todos caucasianos. Quanto à população "escravizada" já era multicultura, como se pode ver no fim do filme, quando aparece uma daquelas cenas que mais parecem tiradas de um anuncio "todos diferentes todos iguais". No 300 o mau da fita é preto, ora mas é um filme que apela às diferenças étnicas, isso não é nada de mais, agora num filme multiculturalista os policias serem uma casta aparte é que é de estranhar, provavelmente existe alguma subliminariedade de algum tipo.

Outras mensagens de extrema esquerda do filme que destaquei, alem da previsível "anarquia no uk", são:
- Os terroristas são sempre rebeldes bons que através das mentiras dos governos de extrema direita passam sempre por maus da fita.
- O herói é um terrorista que usa um colete bomba, em clara inspiração dos bombistas suicidas muçulmanos.
- Um dos personagens rebeldes tem um corão em casa, e quanto a isso diz que não é muçulmano, mas que isso não lhe impede de apreciar a beleza das suas passagens e figuras (não sabia que o corão tem imagens, pensava que os muçulmanos eram contra isso). Ora o filme é extremamente também anti-clerical, logo esta simpatia islâmica traz água no bico. Aqui nota-se a ideia do inimigo do meu inimigo é meu amigo. Além disso apela claramente e tendenciosamente para um dos problemas com que os britânicos e todos os europeus se deparam hoje em dia, a invasão cultural islâmica, da qual a extrema esquerda e toda a facção esquerdista da comunidade europeia é a sua maior aliada.
- O cartaz com a bandeira dos EUA e do Reino Unido com uma suástica no meio, com o intuito que criar uma imagem negativa desses países, que associado com os policias todos brancos, pode interpretar-se como os grupos mais nacionalistas e defensores da cultura desses países, e como sabemos esses dois países tem sido até aqui os mais acérrimos defensores do ocidente. Mas aqui até se compreende, no 300 os traidores também são mortos à facada. ;)

Além disto achei engraçadas as inúmeras referencias à censura, provavelmente devido aos critérios editoriais da editora da bd. Ora confundir censura com a vontade do gajo que está a pagar a coisa parece-me absurdo. Se queria que fosse à sua maneira, tivesse pago e distribuído, provavelmente não ia muito longe.

Ora o que queria perceber mesmo era de onde vem esta inspiração revolucionária anti-regime que vivemos nos dias de hoje, porque parece-me que se for por diante, vai prejudicar mais do que ajudar alguém, alguém há-de ajudar, mas talvez não seja quem se espera. Acima de tudo porque é feita de forma velada, promovida por grupos de determinada ideologia, ao contrário das mensagens de extrema direita que são perfeitamente identificáveis.

Outra coisa será o facto dos anti-regime se limitarem a querer destrui-lo, sem se preocuparem em substitui-lo por qualquer coisa válida alem da anarquia, tal como no filme o herói não se preocupa minimamente com isso. Devido a isto a extrema-esquerda tem tendência a definir-se sempre por oposição à extrema-direita salvo raras excepções. Um exemplo é: "Se é cristão, sou muçulmano". Ora se a extrema-direita tem ideias bem delineadas sobre o que é, e a estrema-esquerda não, daí só podem vir estas atitudes de vizinhas de janela sempre a provocar e a tentar atrasar e irritar.

Quem serão verdadeiramente os maus da fita, será que é preferível um regime muçulmano com apedrejamentos de mulheres na rua à "ditadura" Britânico-Americana?

Esta parece-me que é mais a revolução do cavalo de Tróia do que de outra luta qualquer, e é nisto que consiste a subversão e o perigo da extrema-esquerda, é no fundo, quererem destruir a sociedade ocidental.

quarta-feira, agosto 08, 2007

Corre Eva que os Europeus já nos descobriram a manha.

Agosto é aquele mês em que não apetece fazer nada, ironia do destino, tinha de ser neste mês que havia de aparecer-me um novo projecto para ocupar-me. Se à Inês lhe apetecer, que escreva ela.

Entretanto, enquanto não houver pachorra para escrever, vou fazendo como o louvável Pacheco Pereira e ponho umas imagens porque não dá muito trabalho.

Esta fui busca-la ao "the endorian experience", e adivinhem lá sobre o que é.

sexta-feira, agosto 03, 2007

Epá está caro.

€24,00 por uma caixa com 16 cervejas de meio litro na Alemanha e num festival que parece ser porreiro é muito caro. Em Portugal bebo quase uns 12 copos de 0,25L com o mesmo dinheiro.


Dava também bem um saltinho era aqui, pode ser que seja para o próximo ano.

segunda-feira, julho 30, 2007

Praia Natal


Hoje deu-me um cheirinho a Natal e não foi por ter andando a fazer downloads ilegais de temas natalícios sem direitos de autor.
No prédio o mesmo do costume, até estive para sugerir umas obras de remodelação, com o intuito de tirar umas paredes e alargar o condomínio, pois a maior parte dos moradores vive mais tempo nas escadas do que em casa. A vizinha do segundo que vem à porta quando alguém sobe ou desce as escadas e depois inventa uma desculpa esfarrapada. Mas não foi isso que me fez lembrar do Natal, isso só me faz relembrar deste mundo em que as pessoas não têm espaço para viver, de jardins reduzidos, de espaços de passagem, onde somos empurrados, uns a seguir aos outros porque atrás vem sempre alguém e existe sempre uma fila com alguém à frente. Neste mundo os meus vizinhos têm de andar a conversar de pé nas escadas porque não há espaço nem tempo, para se sentarem na soleira da porta a passar "o bocadinho bem bom".

Pois então, como que raio é que fui lembrar-me do Natal num dia de 40 graus a meio do Verão? A resposta é óbvia. No sitio do costume. Que espaço é mais emblemático do Natal do que um supermercado?

A verdade é que fui lembrar-me do Natal porque já não haviam alfaces no supermercado, coisa estranha num dia normal porque até estava bem guarnecido de todos os outros tipos de vegetais, menos da dita couve. Ora só no Natal é que semelhante coisa acontece, e os estabelecimentos comerciais não conseguem dar resposta à procura dos produtos da época. Felizmente consegui encontrar outra alface na frutaria da dona Deolinda, a última, e para a qual a dona Deolinda, a julgar pela sua cara, já parecia ter planos.

Desta vez ganhei eu, mas ao que parece ainda há muito verão, e da próxima vez pode ser que não tenha tanta sorte.

domingo, julho 29, 2007

A Espiritualidade Ocidental

Se as conversas são como as cerejas, as ideias não lhes ficam atrás. A ideia referida no ultimo post da Biblioteca de Alexandria – O arquivista I, que supõe que mitos e lendas ficam marcados nas estruturas arquitectónicas das cidades (mortas e vivas) lançou-me num novo texto. Trata-se disso mesmo – da forma como o aspecto religioso e espiritual marca a materialidade, ainda que esta tantas vezes se escude atrás do puro materialismo, positivismo, cientismo, e outros ismos cuja fundamental função é retirar à carne o espírito, e fazer com que o barro se articule sem o sopro divino.

Ora, a sociedade ocidental é erradamente, e muitas vezes, conotada com esta materialidade desenfreada. Na verdade este materialismo é recente, e ligado à primeira revolução industrial iniciada no século XVIII em Inglaterra. A sociedade ocidental sempre teve a sua espiritualidade extremamente desenvolvida. Abundam em arquivos e bibliografia os mitos, as lendas, os contos populares das sociedades tradicionais do ocidente, embora estas estejam politicamente condenadas a desaparecer. O que quero dizer é que essas histórias e lendas, começam a deixar de ser transmitidas de geração em geração, por motivos que se ligam menos às crenças e vontades das pessoas do que à política dos governos que gerem a demografia, a economia, e a cultura do país em questão. Por exemplo, é sabido que os movimentos migratórios estão a desertificar o interior de Portugal. Ora não há cultura que resista num local onde as pessoas já lá não estão, onde os filhos estão num país, os avós noutro, os netos só conhecem o país de origem dos pais como o local de férias, e os bisnetos nunca saberão falar a língua original dos seus bisavós. Estamos a falar de um período de 100 anos no máximo. Em 100 anos nesta situação imaginem-se os valores (culturais e outros) que não se perdem. Agora imagine-se o que sucede em 300 anos. Mas não era sobre as consequências nefastas da emigração que queria falar, nem tão pouco da imigração que esse é um problema mais actuante nos grandes centros urbanos e que ataca de outro modo. O que pretendo falar é mesmo sobre a espiritualidade que o ocidente sempre teve e que continua a possuir. As marcas na materialidade ocidental da sua espiritualidade tão mal amada pelo poder. Este é o tema.

É certo: existe espiritualidade envergonhada no ocidente. As pessoas falam baixinho quando falam da sua religião (a não ser que pertençam à religião oficial do “reino”), têm medo de ser mal compreendidas quando falam de temas espirituais. É um facto. Tal como falam baixinho se algo as coloca no rol daqueles que não pertencem à maioria (as minorias são mal vistas. São criticadas, são silenciadas, são desmobilizadas, são esquecidas, são incomodas, são insubmissas e subversivas à democracia enquanto ditadura das maiorias e por isso quando são permitidas, são pelo menos mal toleradas pela “gerência”). A espiritualidade do ocidente continua a expressar-se como algo de que ele não consegue livrar-se apesar de todas as investidas politicas (vivemos num sistema de república laica) para que ela acabe de vez.

Nunca foram criados tantos mitos como na actualidade. Cada bem de consumo possui de valor mensagens codificadas que não são mais do que mitos veiculados pela publicidade e que o consumidor vai inconscientemente ritualizar ao adquiri-lo. Claro que este encantamento perde toda a magia quando o consumidor usa o bem pela primeira vez e denota inconscientemente que não atingiu o objectivo que estava patente na publicidade. E aí o bem perde o seu valor mítico para ser apenas um bem material para determinado uso, muitas vezes abandonado a um canto. É assim, aliás, que se faz aqui tanto lixo. Num outro plano, podemos ver que esta espiritualidade é no fundo um aproveitamento do materialismo para conseguir sobreviver. Quer dizer: a sociedade materialista de que fazemos parte, só sobrevive porque faz um aproveitamento parasitário da necessidade de espiritualidade do indivíduo – retirando-lhe a verdadeira espiritualidade fundada nos seus ancestrais e na sua cultura tradicional, acaba por criar o vazio espiritual necessário para preencher com os bens míticos de consumo que lhe pretende vender a troco de dinheiro ganho com a sua exploração laboral. Assim a espiritualidade não só não abandonou as sociedades ocidentais, como é ela que ingenuamente mantém e sustenta os seus regimes pseudo-democráticos e capitalistas.

Civismo

É uma palavra de ordem para forçar os indivíduos a adoptarem determinado comportamento quando existe um vazio legal que os obrigue a esse mesmo comportamento. Assim sendo, o solicitador, apela em último recurso para a moral do individuo, na esperança de o conduzir ao comportamento esperado.

Jihad

Luta para estabelecer a justa ordem politico-sócio-económica ordenada pelo criador de toda a humanidade e dada à humanidade pelo seu mais recente profeta Muhammad para trazer a paz e harmonia ao mundo; não deve ser considerada uma coisa má. in Gates of Viena

Definição normalmente empregue pelo mundo muçulmano e esquerda ocidental, como aquela que faz entrevistas na rtp1.

Errata
Onde se lê: mundo muçulmano, deve ler-se: radicais de orientação islâmica, por "recomendação" da UE.

sábado, julho 28, 2007

O Arquivista I

A BD dos belgas François Schuiten e Benoit Peeters, “O arquivista”, da série As cidades obscuras (publicação da 1ª Edição em Junho de 2003. Meribérica/Liber Editores, Lda.), fala-nos de uma espécie de misticismo que envolve uma série de cidades as quais irão ser redescobertas por um arquivista através dos documentos que analisa na sua profissão.

Tratam-se de cidades que não se encaixam nas coordenadas espácio-temporais do arquivista, e que obedecem a conceitos completamente místicos e misteriosos. Assim a personagem (e nós próprios com ele) mergulha no mistério de algo que só está ao seu alcance através de documentos bafientos que analisa como uma obrigação laboral e laica. Esta ideia não deixa de ser interessante, porque é pela rotina diária e chatices laborais laicas, ligadas ao quotidiano, (que começa com a entrega de um dossier), que a personagem descobre o mundo obscuro e místico de ambiência pró-religiosa. Embora o relate sempre com uma linguagem que só levemente deixa passar o espectro emocional e onde são escassas as adjectivações, é o próprio sarcasmo que dá o mote introdutório ao texto: “Caixas e caixas de documentos, um verdadeiro delírio. O pior é que todos os outros julgavam que eu tinha encontrado um trabalho bem remunerado. Uma sinecura… Que ideia!!” (p.6).

A crítica também é uma constante e perpassa o papel para se estender à realidade do próprio leitor: “A economia, as ciências políticas, as belas artes, são domínios que todos respeitam… mas “Mitos e lendas”, é uma disciplina menor, ridicularizada, até! Uma subsecção. Como dizem!”. Ora nesta frase não só o autor dá a indicação do tema da BD – “os mitos e lendas” – mas também o “arquivista” revela o seu descontentamento com o trabalho que lhe foi confinado – uma chatice sem reconhecimento sócio-profissional. Tanto assim é, que esta parte introdutória termina com a seguinte frase: “Não há nada como ver como somos alojados! Relegados para as águas-furtadas, como os párias, e com todos estes dossiers que é preciso carregar. Trinta e sete anos nos arquivos, para chegar a isto, é demais!”.

Portanto a obra começa com um “anúncio” feito pela personagem sobre as seguintes páginas. Mas trata-se de uma perspectiva de futuro que não é feliz à partida, sendo pelo contrário, algo que se avizinha extremamente trabalhoso, aborrecido e sem reconhecimento social. Ora, isto lembra-nos alguma coisa não? Nas nossas sociedades não será isto mesmo que se passa relativamente à maioria das funções que desempenhamos? O “arquivista”, de uma forma discreta, põe o dedo na ferida de alguns dos nossos próprios problemas sócio-culturais, apresentados de forma breve no Canto da Cotovia – o trabalho V.s reconhecimento social; profissões reconhecidas socialmente V.s importância e papel dessas profissões desempenhadas na sociedade; compromisso com o trabalho Vs paixão pelo trabalho; o misticismo Vs realidade; religiosidade Vs laicismo. Os mitos e lendas enquanto factores que ficam marcados nas estruturas arquitectónicas das cidades mortas; etc.

Nota de rodapé
Chegou o calor. Finalmente muita gente vai poder festejar depois de ter passado um início de ano a praguejar contra o frio e a chuva. Espero sinceramente que a casa deles arda com o resto da floresta do país que tem vindo a arder nos últimos anos. E se for possível que ardam também, pois não fazem falta nenhuma ao país.

quinta-feira, julho 26, 2007

Ministério da Justiça no Second Life

Bem, segundo o jornal de notícias Portugal vai ser o primeiro país do mundo a ter representação judicial virtual no second life. É um sinal de que o mundo vai caminhar no sentido das teorias de ficção cientifica sobre as realidades virtuais, pois Portugal é sempre pioneiro em matérias de justiça, certamente outros países o seguirão até ser pratica corrente e quiçá única.

É por estas e por outras que não ando pelo second life, pelo menos enquanto não for rechaçado para lá os meus passeios fazem-se pelo mundo natural. A internet só mesmo para troca de informação, nunca para satisfação dos sentidos.

terça-feira, julho 24, 2007

Citação
"Podia fazer o que é costume, mas como sabem isso não é meu hábito."

Paulo Portas - 15/07/2007

sexta-feira, julho 20, 2007

Auschwitz I

São os sinais do futuro genocídio da raça europeia que se adivinha.
Hoje num debate na rtp n, um dos participantes fez a seguinte afirmação a respeito da grave questão dos índices natalidade do país: "A solução não passa por evitar a queda da natalidade, mas sim por Portugal se esforçar em ser um país que bem acolhe portugueses, venham eles de onde vierem."
E termina com esta violenta bomba dos portugueses de todo o mundo, porque no novo mundo toda gente é de todo o lado. Claro que esta afirmação é provocatória, para todos aqueles que ainda não são subprodutos bem pensantes. Provocação porque estes mutantes pensam que estão já tão bem colocados, que não existe a mínima possibilidade de contestação às suas ideias, mesmo quando toda gente já se apercebeu da realidade negra que paira sobre natalidade portuguesa e europeia em geral. E também, porque dizer que os portugueses são de qualquer lado, é totalmente desprovido de verdade, de sentido e apenas pode servir para fins provocatórios ao débil sentido de nacionalidade que vai restando por aqui e por ali, nos que ainda vão resistindo contra estes abortos, que muitos deles infeliz ou felizmente, nem sabem que fins andam a servir, de tal forma que são manipulados pelo parasita ideológico, que qual alienígena dos filmes de ficção cientifica, habita nos seus corpos, mas que neste caso, lhes leva a pensar que são donos da verdade, e que todos os outros são parcos em esclarecimentos sobre estas matérias (como se tivessem nascido no século XVI, e eles como são especiais já nasceram no século XXI e receberam a luz da clarividência). Não sabem eles é que muitos do lado de cá são desertores do lado de lá.

Ocultas são as origens deste ódio, pois estas politicas não são originadas por uma indiferença quanto às questões raciais, mas sim por uma acérrima vontade de fazer desaparecer as culturas e raça europeias.

Nota positiva para o ex. ministro Bagão Felix, que tentou ainda rebater esta "ideia", mas que já não foi a tempo porque o programa estava no fim.

Eles andem aí

Nos últimos 12 meses, a detenção de Abu Omar al-Baghdadi foi dada como certa. A sua morte também. Mas o líder do Estado Islâmico no Iraque, o principal grupo sunita às ordens da Al-Qaeda naquele país, parecia ter uma capacidade excepcional para escapar ileso aos ataques dos americanos. Ontem, o porta-voz do exército dos EUA encontrou uma nova explicação para esse fenómeno: Baghdadi nunca existiu.

Quando o porta-voz do exército dos EUA descobrir que nada disto existe e que ele não passa de uma pilha para alimentar as máquinas é que cai redondo, em sentido figurado claro, pois o espaço físico também não existe.

Claro que estas voltas ao mundo também não existem, são só virtuais.

quarta-feira, julho 18, 2007

As discotecas e os bares de alterne que se cuidem

Várias livrarias estarão abertas à meia-noite de sexta-feira para que os admiradores de Harry Potter em Portugal se contem entre os primeiros em todo o mundo ler o sétimo e último livro da saga.

Será uma noite longa nas livrarias da Bertrand, FNAC e Bulhosa, cuja loja de Cascais vai organizar uma sessão especial dedicada a este lançamento no Museu da Música - Casa Verdades de Faria, no Monte Estoril.

Finalmente. Demorou mas foi.

Eis que é chegada a hora da sociedade informada. De uma sociedade de indivíduos letrados, que preferem passar os seus curtos momentos antes da morte na companhia de um monte de folhas de celulose coladas ou cosidas entre si, em vez de os passarem ansiosamente envoltos em anedotas brejeiras e de «cocktail» na mão, ou regados de álcool e de urros de fanatismo futebolístico. Parece mentira não é? Pois parece mas não é. Muitos escritores terão escrito sobre isto, no entanto duvido que algum tivesse realmente acreditado que algum dia isto fosse possível. Mas só não consegue quem não insiste, e ao preço que os livros andam, as editoras/distribuidoras têm mais do que razões para insistir, e não há de faltar muito para que a cultura do bestseller consiga aquilo que parecia impossível.

Esta "febre de sexta à noite" fez-me passar pela cabeça, aquelas situações tão frequentes numa sociedade que despreza o conhecimento, que o despreza por inveja e o maltrata quando não é acompanhado de reconhecimento económico e social. E despreza-o porque na hora de escolher entre o conhecimento ou o reconhecimento, a escolha é óbvia para a maioria. Mas a escolha nunca lhes é suficiente, além dos insultos, ainda gostam de opinar sobre as matérias académicas dos cursos menos reconhecidos, transformando-as em senso comum, nomeadamente ciências sociais e direito, tanto que toda gente hoje em dia parece gostar de ser historiador ou advogado, mas não deixaria de ser engenheiro se isso implicasse não ter o BMW estacionado à porta.

É esta forma de pensar culturalmente correcta, em que o que interessa é ler, nem que sejam as receitas de culinária ou os "ingredientes" do papel higiénico e aqueles cinco livros que forram em quantidades industriais a entrada das livrarias de Lisboa, especialmente nos centros comerciais, que vai gerar o verdadeiro Homo Sapientis alimentado a livros transgénicos. Aliás como também o novo ser índigo, espiritualmente superior que agora também anda por aí, mas isto é outra história.

terça-feira, julho 17, 2007

"Não sou profeta, mas Portugal acabará por integrar-se na Espanha"



"Este foi o regresso mais longo de José Saramago a Portugal desde que a polémica que envolveu a candidatura do seu livro O Evangelho segundo Jesus Cristo ao Prémio Literário Europeu o levou para um "exílio" na ilha espanhola de Lanzarote. A atribuição do Prémio Nobel parece tê-lo feito esquecer essas mágoas, mas não amoleceu a sua visão da sociedade e da História, que continua a ser polémica. Como se pode ver nesta entrevista.

Durante dois dias, o Nobel da Literatura português sentou-se no sofá e analisou o estado do mundo.

Na única entrevista que concedeu durante a temporada passada na sua casa de Lisboa, falou muito de política, mais de literatura e também da vida e da morte. Pelo meio ficou o anúncio da criação da fundação com o seu nome e a revelação de que está a escrever um novo livro.

A união ibérica

Este regresso a Portugal é um perdão?

O país não me fez mal algum, não confundamos, nem há nenhuma reconciliação porque não houve nenhum corte. O que aconteceu foi com um governo de um partido que já não é governo, com um senhor chamado Sousa Lara e outro de nome Santana Lopes. Claro que as responsabilidades estendem-se ao governo, a quem eu pedi o favor de fazer qualquer coisa mas não fez nada, e resolvi ir embora. Quando foi do Prémio Nobel, dei uma volta pelo país porque toda a gente me queria ver, até pessoas que não lêem apareceram! E desde então tenho vindo com muita frequência a Lisboa.

Vive num país que pouco a pouco toma conta da economia portuguesa. Não o incomoda?

Acho que é uma situação natural.

Qual é o futuro de Portugal nesta península?

Não vale a pena armar -me em profeta, mas acho que acabaremos por integrar-nos.

Política, económica ou culturalmente?

Culturalmente, não, a Catalunha tem a sua própria cultura, que é ao mesmo tempo comum ao resto da Espanha, tal como a dos bascos e a galega, nós não nos converteríamos em espanhóis. Quando olhamos para a Península Ibérica o que é que vemos? Observamos um conjunto, que não está partida em bocados e que é um todo que está composto de nacionalidades, e em alguns casos de línguas diferentes, mas que tem vivido mais ou menos em paz. Integrados o que é que aconteceria? Não deixaríamos de falar português, não deixaríamos de escrever na nossa língua e certamente com dez milhões de habitantes teríamos tudo a ganhar em desenvolvimento nesse tipo de aproximação e de integração territorial, administrativa e estrutural. Quanto à queixa que tantas vezes ouço sobre a economia espanhola estar a ocupar Portugal, não me lembro de alguma vez termos reclamado de outras economias como as dos Estados Unidos ou da Inglaterra, que também ocuparam o país. Ninguém se queixou, mas como desta vez é o castelhano que vencemos em Aljubarrota que vem por aí com empresas em vez de armas...

Seria, então, mais uma província de Espanha?

Seria isso. Já temos a Andaluzia, a Catalunha, o País Basco, a Galiza, Castilla la Mancha e tínhamos Portugal. Provavelmente [Espanha] teria de mudar de nome e passar a chamar-se Ibéria. Se Espanha ofende os nossos brios, era uma questão a negociar. O Ceilão não se chama agora Sri Lanka, muitos países da Ásia mudaram de nome e a União Soviética não passou a Federação Russa?

Mas algumas das províncias espanholas também querem ser independentes!

A única independência real que se pede é a do País Basco e mesmo assim ninguém acredita.

E os portugueses aceitariam a integração?

Acho que sim, desde que isso fosse explicado, não é uma cedência nem acabar com um país, continuaria de outra maneira. Repito que não se deixaria de falar, de pensar e sentir em português. Seríamos aqui aquilo que os catalães querem ser e estão a ser na Catalunha.

E como é que seria esse governo da Ibéria?

Não iríamos ser governados por espanhóis, haveria representantes dos partidos de ambos os países, que teriam representação num parlamento único com todas as forças políticas da Ibéria, e tal como em Espanha, onde cada autonomia tem o seu parlamento próprio, nós também o teríamos.

Há duas Espanhas

Os espanhóis olham-no como um deles?

Há duas Espanhas neste caso. Evidentemente, tratam-me como se fosse um deles, mas com as finanças espanholas ando numa guerra há, pelo menos, quatro anos porque querem que pague lá os impostos e consideram que lhes devo uma grande quantidade de dinheiro. Eu recusei-me a pagar e o meu argumento é extremamente simples, não pago duas vezes o que já paguei uma. Se há duplicação de impostos, então que o governo espanhol se entenda com o português e decidam. Eu tenho cá a minha casa e a minha residência fiscal sempre foi em Lisboa, ou seja, não há dúvidas de que estou numa situação de plena legalidade. Quanto aos impostos, e é por aí que também se vê o patriotismo, pago-os pontualmente em Portugal. Nunca pus o meu dinheiro num paraíso fiscal e repugna-me pensar que há quem o faça. O meu dinheiro é para aquilo que o Governo entender que serve.

Mas não pode negar que o olham como um deus...

Não diria tanto...

Mesmo sendo a crítica espanhola tão positiva em relação à sua obra?

Também já foi uma ou outra vez um pouco negativa - talvez devido às minhas posições políticas e ideológicas - mas de um modo geral tenho uma excelente crítica em toda a parte, como é o caso dos EUA, onde é quase unânime na apreciação da minha obra".

(Entrevista feita por João Céu e Silva, feita a Saramago publicada no D.N. online, de 15/07/2007


"Acho incrível como séculos e séculos de história pouco ou nada nos ensinaram. A opinião do Saramago não é exclusiva dele e infelizmente existem imensos portugueses com as mesmas ideias sobre o lugar subalterno que politicamente Portugal deve ocupar na Península Ibérica, face à vizinha Espanha. Mas nós já tivemos a experiência com o reinado dos filipes, e ao que parece nada voltou a ser o que era antes disso. Ainda falta saber se as melancolias saudosistas que actualmente se consideram erradamente o ex-libris da cultura portuguesa observada no fado essencialmente dos lisboetas, eram já existentes no povo português antes dos filipes terem cá reinado; ainda falta saber se as saudades do futuro com que se pinta a tela da cultura e identidade nacionais, enraizadas no mito do 5º império, cantadas pela expressão artística recente, são coisas realmente antigas da nossa própria identidade original como povo, ou se são derivações do estado de tristeza geral em que o país mergulhou após o domínio espanhol. É que infelizmente há quem fundamente a identidade nacional neste tipo de cultura-reacção a um trauma nunca superado, que foi o domínio espanhol como coroamento de uma série de catástrofes nacionais, e na submissão portuguesa ao que lhe é exterior, coisa que é historicamente recente tendo em conta o tempo de vida e história do território lusitano. Os efeitos colaterais da subjugação política portuguesa aos espanhóis foram tão devassos e graves que ainda hoje sobrevivem simbolicamente nas mentalidades do povo português, não como algo de que nos orgulhemos, mas como uma espécie de trauma psicológico que precisa de ser urgentemente tratado sob pena de nunca mais acreditarmos em nós próprios, nem recuperarmos a nossa verdadeira identidade. Como reacções que existem para além do factor que as motivou. Como significados cujo significante se apagou no tempo, mas que resiste sob forma de sintoma, difícil de curar, já que se perdeu a consciência da sua ligação à própria causa". (postado anteriormente por Inês no gladio).

Pensamento dos 5 tostões
Em terra de chicos-espertos, os atalhos são a estrada principal.

domingo, julho 15, 2007

O lugar dos livros

Há quem diga que os livros servem de companhia, de amigos, de confessores, de mestres, enfim, de imensas coisas que justamente, mas insuficientemente, se lhes atribui como méritos de uma quase “bengalinha” de que os indivíduos se socorrem face a uma sociedade que muito deixa a desejar nesses “buracos” que os livros supostamente preenchem. Neste sentido os livros assumem o papel de uma espécie de super-heróis contra o “mal”, na sua tarefa silenciosa de segredar ao nosso ouvido palavras que, consoante nos fazem mais ou menos sentido, passam a assumir um lugar na hierarquia dos livros da nossa vida. E quando começamos a ler um livro, enchemo-nos de um Estado de Graça que é a esperança de que aquele livro particularmente nos encha de verdade. Os livros de facto, têm um compromisso com a verdade que é em última instância o seu maior objectivo e projecto de vida.
Contudo nunca pensamos no lado grandioso dos livros, à parte daquilo que pode significar para uma pessoa, no seu papel nas direcções de toda a humanidade, ou pelo menos de algumas sociedades de determinadas coordenadas espacio-temporais. Esta grandiosidade das obras literárias, filosóficas e científicas, particularmente a mim, fazem-me pensar na antiga Biblioteca da Alexandria construída no século III no reinado de Ptolomeu II do Egipto, onde o espólio de toda uma Era histórica registado em milhares de rolos de papiros se foi perdendo ao longo dos seus lendários incêndios e ofensivas até ter sido definitivamente destruida em 646 (1). É quando choramos os nossos mortos que lhes damos valor. E é quando os recordamos que podemos lutar para repor a verdade na sua memória, para que essa memória seja honrada e não deturpada em nome sabe-se lá do quê que dá jeito à hipocrisia política e social que apodrece o nosso sistema.
Há pessoas que são como os livros. Ocupam um espaço humilde na vida, na sua própria vida, para não falar da vida dos outros homens, da sociedade, da sua época histórica. E no entanto assumem um compromisso com a verdade maior do que muitos outros ilustres. Essas pessoas são as pessoas-livros. Encerram conhecimento verdadeiro e o seu papel na vida é serem lidas quando alguém é despertado pela curiosidade. Contudo muitas, apesar disso, ficam toda a vida na prateleira sem serem abertas. Destas pessoas-livros algumas deixam registo post-mortem. Um testemunho dos seus pensamentos. É assim que anos mais tarde, muitos às vezes, alguém pega nesses registos e toma conhecimento da existência de uma pessoa-livro que deixou uma verdade registada para toda a eternidade. E essa verdade, quando é pela primeira vez lida muitos séculos após a morte do seu autor, liberta-se finalmente e passa a ser também a verdade exclusiva de outra pessoa. Os livros têm destas coisas. O escritor escreve apenas uma verdade. Imensas pessoas podem partilhá-la. Mas ela não deixa de ser a verdade exclusiva de cada uma dessas pessoas.
Não há nada tão anónimo como as pessoas-livro. Um livro é apenas mais um livro. Uma pessoa é apenas mais uma pessoa. Um livro é um contrato de verdade de uma pessoa singular, assinado para com a vida.

Este foi o pensamento que me suscitou o desafio do Caturo lançado no Gladius. Foi assim o interesse que nos fez pensar em postar aqui sugestões e comentários de leituras. E dito isto, passo a sugerir um livro. Apenas um livro.

De George Orwell, 1984. Publicado pela primeira vez em 1949, trata-se de um livro que fala do futuro mas que muitas das suas previsões/profecias podem ser encontradas já no presente. Um livro que dá vontade de salvar as personagens pois não nos são, de todo, estranhas a nós próprios. E ainda uma história que temos a certeza ser o lugar da história onde infelizmente temos sido cada vez mais a pouco e pouco conduzidos. Um livro profético sem dúvida.

Boa leitura.



(1) Se este último incêndio foi acidental, como se quer fazer crer, ou se foi fogo posto por um fundamentalista muçulmano, é uma questão que ainda não está bem explicada. O historiador muçulmano Abd al-Latif (1160-1231) escreveu: "A biblioteca de Alexandria foi aniquilada pelas chamas por Amr ibn-el-As, agindo sob as ordens de Omar, o vencedor". Esse Omar se opunha aliás a que se escrevessem livros muçulmanos, seguindo sempre o princípio: "o livro de Deus é-nos suficiente". Era um muçulmano recém-convertido, fanático, odiava os livros e destruiu-os muitas vezes porque não falavam do profeta. É natural que terminasse a obra começada por Julio César, continuada por Diocleciano e outros.
Cf. Jacques Bergier,
Os Livros Malditos. Editora Hemus, 1971.

Democracia qb e ao gosto de cada um

Que a democracia é uma chatice para o poder já sabemos. A Liberdade de expressão tem de ser respeitada pelo poder em maior ou menor quantidade, a sua qualidade de estrela da democracia dá-lhe este luxo. Infelizmente a liberdade de pensamento qual gata borralheira já não tem a mesma sorte, mas apesar dos ataques que ambas vão sofrendo, compreendo o porquê. Faz todo o sentido que o poder se proteja.

Não consigo compreender é quando são pessoas, aparentemente independentes, a dizerem que umas eleições com muitos candidatos "fantasma" são prejudiciais para a democracia. Candidato "fantasma", segundo os mesmos, é aquele que concorre só para aparecer e comer qualquer coisa. Ora a aventesma do PS não compadece do mesmo mal anti-democrático? Ou alguém acredita que é por um gesto de boa vontade que saiu do governo para ir para a CML? Isto faz-me profunda confusão, como é que alguém independente, em principio repito, pode defender um estrangulamento do espectro partidário como sendo positivo para a democracia. Só consigo ver "O interesse" neste tipo de comentários, não acredito que um comentador de tv possa acreditar mesmo nisto, por isso resta a possibilidade de pertencer ao PS. E é nestas coisas que as pessoas são levadas a acreditar no "bicho papão", enquanto os outros comem descansados às escondidas.

Em outra análise, diziam que a abstenção está a crescer em todos os países europeus, o que não é verdade no caso francês. Com a ressalva de depois ter dito, a respeito de outra coisa, que o aparecimento de partidos anti-sistema não é bom para a democracia, como que querendo desculpar-se inconscientemente do erro anteriormente cometido. Pois eu penso de forma contrária, os partidos anti-sistema nem que sejam para levar as pessoas a irem votar, são positivos para a democracia, e que porra, se não quiserem ir votar os ortodoxamente pensantes, deixem então para os outros, pois é isso mesmo que não ir votar representa.

O que não é bom para a democracia é as pessoas que não têm tacho, votarem naqueles que fazem com que tenham uma vida desgraçada, para dar aquilo que era seu e os lugares que deviam ocupar com as suas habilitações, a pessoas menos qualificadas, que fazem parte do partido do "SISTEMA(PS)", e que são favorecidas nos concursos aos lugares públicos. Por isso se quem tem tacho tem razão em defender o seu, o que não é democrático é quem não tem tacho, votar também. Isso só pode querer dizer uma coisa, é que quem se queixa e depois vota PS não é muito inteligente. Por isso é perfeitamente saudável a existência de partidos anti-sistema. E antes do 25 de Abril ia-se para a cadeia pelo que se dizia? A agora não se vai? Antes do 25 de Abril a culpa não era do Salazar mas dos Filhosdaputa dos GNR e dos Pides que ainda andam por aí. A tolerância hoje em dia é a mesma, tirando o facto de que não existe um autoritarismo das policias tão exacerbado, chegando mesmo a ser o contrário, o estado tem menos força por isso é que não vou preso por dizer isto, e claro porque não sou ninguém, porque se fosse, a história era outra. É isto que muita boa gente de esquerda não gosta de ouvir, é que a haver uma nova ditadura, ela será uma ditadura de esquerda, e quero ver os meninos do bloco de esquerda a protestar contra isto, a dizer que são os fascistas da direita. Fascistas só de esquerda pelos vistos.

Bem-vindos ao século XXI. O poder fascista como gostam de dizer é coisa da esquerda, e o socialismo só mesmo na direita.

Comentários da Sic Notícias, um canal que realmente já me pareceu bem melhor no que toca à qualidade jornalística, ao contrário da ideia de que a Sic é a única televisão livre do sistema.

sábado, julho 14, 2007

As coisas do costume

É com coisas destas que eu sou levado a crer que até temos liberdade de expressão a mais. a A critica é saudável, cada um deve ser livre de dizer o que quiser contra quem quiser, desde que assuma com honra as suas palavras e não as manipule. O que se vê acima e pela net é de uma grande falta de carácter, e uma subversão, dado que é um insulto para o nacionalismo, ser associado a um governo socialista. Acima de tudo a este governo socialista que não é minimamente nacionalista.

terça-feira, julho 10, 2007

Deus©

A Igreja Católica foi a única igreja fundada por Jesus. Um documento de Bento XVI, hoje publicado pela Santa Sé, reafirma «a plena identidade da Igreja de Cristo com a Igreja católica».

Depois dos Metallica®, da Coca-cola®, da Nike®, Adidas®, etc., eis que chega finalmente a vez de ser a Santa Corporação® (Igreja Católica®) a tomar medidas contra a contrafacção de deuses. Claro que os deuses são uma questão muito mais complicada, e nem sempre poderão ser visíveis a olho nu (olho excomungado® por se passear desprovido de trajes) as características que distinguem o verdadeiro-deus®.

Sublinhando que o documento hoje divulgado pretende «dar com clareza a genuína interpretação» sobre a constituição da Igreja fundada por Jesus, a Declaração é elaborada de forma singular, em jeito de pergunta e resposta. E logo se esclarece que é na Igreja do Papa de Roma que subsiste «a continuidade histórica e a permanência de todos os elementos instituídos por Cristo». Por isso, conclui que as comunidades protestantes não podem ser consideradas de Igrejas. Porquê? «não têm sucessão apostólica» – aquilo que Roma considera como uma linha sucessória, de continuidade entre os papas, desde S. Pedro – e por esta razão as Igrejas protestantes estão privadas daquele «elemento essencial».

Ficamos a saber que a principal diferença, é além do óbvio documento, é o facto de não haverem apóstolos®, os apóstolos® que criaram a Igreja®. Ficando assim quem não tem sangue de apostolo, condenado ao fogo eterno dos infernos® onde será cozido e a sua carne servida às fatias durante os bacanais presididos por Lúcifer. A não ser claro que se chegue com o tostão para a carteira do santo-sacro-velho-caquéctico-de-roupa-branca®.

Mas uma questão muito pertinente levanta-se desse mesmo fogo que coze de forma lenta e dolorosa a mente daqueles que não têm a cabeça cheia do sacro-santo-vento-do-paraíso® (pelo menos do católico®), para os mais desatentos chama-se a este fogo na linguagem corrente "pensar um bocadinho": Como que raio, é que, um deus® todo poderoso, criador do céu e da terra e de TODAS AS COISAS®, permite esta infâmia de se Lhe® copiarem a Igreja®?

Das duas uma, ou foi vitima da sua misericórdia®, e permitiu os rabianços do demónio, que tenta condenar os pobres seres humanos, incapacitados na sua pobre e misera ignorância de discernir o bem do mal, e neste caso temos a explicação do porquê dos professantes de outras igrejas estarem condenados ao inferno. Ou então as outras igrejas também foram criadas por deus®. Ou pior ainda, talvez sejam igrejas gémeas, separadas à nascença porque eram filhas de um pai rico e mãe pobre chamada Isaura e tiveram de ir viver com as amas, e quando descobrirem que são irmãs, vão viver em paz juntas e mais tarde podem vir a conhecer o seu irmão mais novo, chamado Islão, filho do mesmo pai, porque entretanto a mãe foi morta para encobrir a vergonha do adultério com uma mulher, ser pouco nobre.

Temos telenovela.

Resta saber o que pensam os responsáveis protestantes, quando conhecerem na íntegra o texto agora publicado por Bento XVI, no qual se reafirma que só na comunidade católica reside «a plena identidade da Igreja de Cristo».

Os protestantes prometem protestar seriamente e podem mesmo chegar a criar mais desacatos que os ciganos da feira de Carcavelos.

Cantor vendeu irmã no eBay

A ideia de vender a irmã surgiu depois de a «ver chorar por não poder ir a um funeral na Irlanda», recordou Blunt, uma vez que «não havia aviões, ferry-boats ou comboios» que a pudessem levar até lá.

Em pleno séc. XXI, o homem vive num mundo pós-apocalíptico, dominado pela tecnologia, onde pode surfar no cyber-espaço e candidatos à câmara de Lisboa fazem propaganda no Second Life, mas em contrapartida todos os meios de transporte foram suprimidos aquando dos cataclismos que levaram ao fim do mundo como ele era conhecido.

Aparentemente a única alternativa podia ser realizar o funeral no Second Life.

Como seria de esperar, «as licitações não tardaram e o vencedor tinha um helicóptero, levando-a ao tal funeral». Isto passou-se há três anos. Blunt revelou agora que os dois encetaram um romance, vivem juntos e planeiam casar-se no Verão.

Mas quando tudo parecia perdido, eis que aparece um cavaleiro que tem o último helicóptero e os últimos 3 litros de gasóleo, consigo traz uma equipa de cavaleiros experimentados na caça ao dragão... hmm acho que já vi este filme, mas não me recordo do nome.

Mas Blunt promete mais para os próximos tempos. É que o cantor tem outra irmã e já anunciou que também a planeia vender na Internet.

Estás com azar, eu já vi o filme e só entra uma irmã. Os dragões acabam-se antes de haver segundo casório e o helicóptero também. E tem um tipo com um machado, podes é vender o machado.

Bispos e padres zangados com a Segurança Social

Esta mais tenso do que nunca o clima entre a Igreja Católica e o Governo portugês. Os prelados não têm calado as críticas às políticas económicas que, segundo eles, têm levado ao aumento do desemprego e ao alastrar da pobreza em diversas zonas do País, enquanto o Governo, por sua vez, anda a passo de caracol na regulamentação da Concordata e coloca dificuldades aos acordos com as instituições de solidariedade.

Bem me parecia que eles se iam chatear, mas também é para ajudar os pobrezinhos, temos de dar o desconto.

A gota de água foi o facto de a Segurança Social, em diversos distritos, ter enviado cartas a padres para que efectuassem pagamento das respectivas contribuições, sem que o assunto esteja devidamente regulamentado no âmbito da Concordata.

Ena, coitados dos padres, os jogadores de futebol não pagam e agora os padres é que têm de pagar. Queriam ser os únicos a cobrar o dízimo.

Aliás, nesta questão da Comunicação Social, os bispos entendem que existe, da parte do Governo, intenção deliberada de prejudicar os Órgãos de comunicação de inspiração católica, com destaque para a Rádio Renascença.

Pena que o padre diz que não é clima de guerra, porque se o Sócrates bombardeasse a Rádio Renascença eu até era capaz de ir votar nele.

O Moisés nunca mais vem buscar esta gente esquecida para os levar para a terra prometida.

quinta-feira, junho 28, 2007

Igreja Católica perde exclusivo dos casamentos religiosos com efeitos civis

O Governo aprovou hoje a abertura da celebração de casamentos religiosos, com efeitos civis, a comunidades religiosas radicadas em Portugal há mais de 30 ano, terminando assim com o regime de exclusividade da Igreja Católica.

Até aqui parece bem, não fazia sentido nenhum num estado supostamente secular.

«A partir de agora, o casamento celebrado sob forma religiosa perante o ministro do culto de uma igreja ou comunidade religiosa radicada no país passa a produzir efeitos civis à semelhança do regime de casamento católico, sem prejuízo das especificidades resultantes da Concordata celebrada entre o Estado Português e a Santa Sé», declarou o ministro da Justiça, Alberto Costa.

Hum..., espero que não seja mais uma "Concordata" daquelas. A padralhada não costuma comer estas coisas e ficar calada, a não ser que ganhe algum com isso. Mas pode ser que não, pode ser que finalmente estejam a ser postos no seu lugar, o desespero do Supremo Radical Católico pode querer indicar isso mesmo.

Interrogado sobre os motivos da aplicação de 30 anos de permanência em Portugal para que uma confissão possa celebrar casamentos religiosos, com fins civis - decisão que exclui os novos cultos -, o ministro da Justiça declarou que se trata de um prazo que já vigora em Portugal.

Não se pode querer tudo, apesar de gostar muito de alguns "novos cultos", penso que ainda têm muito que andar.

Agora outra notícia:

Soares preside a Comissão de Liberdade Religiosa

Isto cheira mesmo a coisa comunitária. Comissão, Liberdade, Multicoisas, Mário Soares, só pode.

Mário Soares é "uma personalidade cujo contributo para a democracia e para a liberdade religiosa, assim como para o diálogo inter-religioso, é conhecido de todos os portugueses”.

Já sabemos o que é o dialogo inter-religioso (Cristianismo-Islamismo).

Afinal cheira-me que este "avanço" tem mesmo qualquer coisa a ver com o islão, este dialogo traz água no bico e vem lá de cima da Kaaba de Bruxelas.

Já sobre o número de confissões religiosas que vão passar a poder celebrar casamentos civis, o ministro da Justiça disse que serão três no plano imediato, mas recusou-se a identificá-las.

Eu cá já tenho a minha aposta.

Racionamento de gasolina causa violentos distúrbios em Teerão

Noticia de hoje do DN Online que dá conta das confusões que se andam a passar na freguesia da Cova do Petróleo.

Aumentou o preço e foi imposta uma quota na compra de combustível A entrada em vigor da segunda fase de um plano de racionamento de gasolina no Irão originou ontem ataques a várias bombas em Teerão e críticas ao Presidente Mahmoud Ahmadinejad, visto como responsável pela decisão.

As medidas agora em vigor atribuem cem litros de gasolina a cada automobilista por mês, durante um período de quatro meses, prolongável por mais dois. Não está prevista a compra de combustível para além desta quota.



Realmente a coisa parece que está quente, a gasolina deve andar mais cara do que uma loira, pois nunca se vê coisas destas pelo preço das mulheres no irão. Quanto será que custa?

As medidas visam a redução do nível dos subsídios à gasolina, que custa o equivalente a oito cêntimos o litro, e a diminuição das importações. Apesar de quarto produtor mundial, o Irão tem de importar 40% da gasolina que consome, devido à falta de capacidade de refinação. Este é um dos argumentos de Teerão para de-senvolver o programa nuclear, que os EUA acusam de possuir uma vertente militar.

Macacadas à parte, fiquei curioso para saber se é muito cara a gasolina no Irão, pois não acredito que os 8 cêntimos sejam já à proporção. Isto claro de uma forma muito redonda e pouco exacta que não sou especialista em calculo financeiro.

Ao que parece em 1999, o salário mínimo era 350,000 "rials", é possível que já tenha descido com todos estes fundamentalismos, e um euro equivale a 12500 "rials", ou 1250 "toman". Ou seja o pessoal no Irão recebia 28 euros por mês, nada mal, e paga 8 cêntimos por litro, 0,3% do ordenado. Em Portugal recebemos 403 euros e pagamos 1 euro e 20 cêntimos. 0,3%.

Ainda bem que não sei fazer contas e que não conheço a cultura iraniana para poder perceber se isto é verdade. Fico muito mais descansado por perceber que quem anda a mandar na tasca é mais sabedor do que eu, pois com as minhas conclusões, fiquei com a ideia que também devíamos andar a fazer qualquer coisa, pois isto da globalização tem estas vantagens de podermos copiar os grandes exemplos que vêm dos outros países.

quarta-feira, junho 27, 2007

Finalmente alguma coisa feliz...

Para contrariar os posts negativos e mostrar que o mundo não é um sítio assim tão mau, é sempre bom ver um panda bebé.


E então se for seguido de golfinhos a serem esquartejados ainda melhor.

Se por acaso és a única pessoa do mundo que está a ver isto, e ainda por cima és impressionável é melhor não veres, o que é um grande azar.

Sonho e Futuro

Os termos Sonho e Futuro empregues em alternância, são utilizados pelas entidades que disponibilizam produtos financeiros, doravante designadas por ENFIN, para a promoção de produtos, nomeada e respectivamente, de Crédito e Poupança.

Os termos são figurações estilísticas mais apropriados à linguagem publicitária onde são divulgados estes produtos, permitindo criar um imaginário muito mais motivador ao consumidor do que um simples e feio: Epá gasta dinheiro! Ou, se fosse a ti guardava mas era alguma coisa porque senão vais ter de comer papas de aveia quando fores velho. Regra geral, como a publicitação de um ou outro produto segue as tendências conjunturais (humores dos banqueiros barrigudos) do meio financeiro, é possível notar, pelo fenómeno que constitui a coordenação com que todas as ENFIN apelam aos seus produtos em uníssono e em alternância, o nómeno invisível do meio que as motiva. Assim quando precisam de encher os cofres gritam: - Futuro! Quando pretendem por o dinheiro a mexer para não criar mofo, gritam: - Sonho! Estas poderão, muito bem ser, as novas, esquerda volver, e direita volver, do exército global do século XXI.

segunda-feira, junho 25, 2007

Bits de fundo azul

Vá-se lá saber o que aconteceu ao IRC – Internet Relay Chat. Andava-se pela ptnet e numa só noite tinham-se conversas do tipo mais variado que se possa imaginar. O irc permitia através dos canais temáticos conhecer gente com os mesmos gostos e preferências sem estarmos circunscritos ao núcleo de pessoas do nosso bairro ou do nosso emprego. A bem ver, os nossos amigos nunca foram muito, escolhidos por nós. Eram-no de facto, mas dentro de um leque de escolhas extremamente restrito. Fazíamos amigos mas dentro do leque de pessoas que partilhavam o nosso prédio ou a nossa escola ou o ginásio. No entanto o nosso prédio ou a nossa escola, ou o ginásio, não eram escolhidos por nós, mas pela nossa carteira. Tínhamos de contentar-nos com o que aparecia. Há bolsos para tudo, e nem sempre para aquilo com que nos identificamos. Quem gostasse de cinema e fosse pobre teria de se contentar quando muito com os frequentadores do videoclube da terra. Parece-me ser esse o grande êxito do irc. É que com ele podemos conhecer tanto os que alugam filmes no videoclube da aldeia como os que estudam realização cinematográfica. Não é uma questão de dinheiro. É uma questão apenas de interesses.

segunda-feira, junho 18, 2007

Rótulos e classificação

Actualmente assiste-se a uma confusão por parte da nossa sociedade no que toca à selecção de bens, ideias, actos, etc., na ausência de um rótulo que permita facilitar o trabalho de identificação do conteúdo do objecto de identificação.

As pessoas parecem ter perdido a sensibilidade de emitir um juízo avaliador e delegam esse trabalho nos profissionais especializados neste tipo de assuntos.

Por exemplo, uma pessoa pode chegar ao ponto de lavar as embalagens que tem como destino a reciclagem, com a melhor das intenções e sem poder ser condenada, se não levarmos em conta o consumo de água, mas por outro lado, usar papel para limpar a casa em vez do tradicional pano ou esfregão. Este tipo de comportamento, surge porque enquanto a questão da reciclagem é publicitada e já foi interiorizada como sendo um comportamento cívica e politicamente correcto, o uso do pano ou outro método tradicional é "socialmente virgem", ou seja não existe opinião social sobre ele, estando ultrapassado higienicamente quando comparado com o papel superior por ser descartável. O mesmo se passa no que respeita à utilização do automóvel dentro das cidades quando comparado com o "demonizado" tabagismo.


Pois esta situação aparentemente devida à especialização, e provavelmente a outras coisas, deixa cada vez menos tempo e paciência, e diminui os hábitos de nos envolvermos em assuntos comuns com os quais não estamos em contacto no nosso mundo quotidiano.


Seria absurdo vender embalagens com produtos perigosos sem a devida identificação e sem se poder proceder a uma identificação rigorosa. No entanto, no que toca às questões ideológicas que dirigem a nossa sociedade é perigoso que sejam tratadas da mesma forma. A publicidade tal como a propaganda tendem a centralizar a atenção dos públicos mais no rotulo do que no conteúdo através da utilização dos chavões de sucesso, e exacerbar maniqueísmos quando chega aos momentos de escolhas. É muito fácil termos uma opinião sobre determinado conflito ou caso divulgado pela comunicação social, sobre as questões ambientais, o aquecimento global, a agenda dos governos, conflitos sindicais, etc. Raras vezes tomamos noção que na maior parte das vezes esta nossa opinião chega até nós através da opinião de um comentador de actualidade, que resume os factos dos acontecimentos e os traduz de forma clara e de consumo rápido à sociedade em geral. Basta que experimentemos analisar uma situação que não seja alvo de projecção mediática, e que não seja "digerida" pelos comentadores de serviço para se perceber que a decisão se torna muito mais complicada. Uma escolha em consciência é uma coisa trabalhosa, requer estudo, envolvimento, actuação, viragens de opinião e por vezes alguns actos de fé. No entanto, sempre consciente, para que posteriormente possa ser reconsiderada caso surjam novos dados, e evitar que se caiam em fanatismos.


Se pudesse apontar uma fragilidade da democracia, num país em que um cidadão pensa que um líder do PS Madeira, em campanha eleitoral, é partidário do PSD, certamente iria optar por esta, pois que maior perigo existe para a democracia do que enferrujar as armas do povo.


Tudo isto porque surgiu em conversa com um amigo, quando discutia-mos que opções temos senão votar desesperadamente nas mesmas cinco alternativas, e lhe disse que alternativas existem sempre ou pelo menos temos possibilidade de as criar, que errado é pensarmos que o mundo se restringe àquilo que conhecemos ou que pensamos que existe, e que o importante não era indicar-lhe um nome de um partido, como se fosse uma marca de medicamentos, até porque quase ninguém tem exactamente as mesmas ideias, que isso o ia levar certamente ao mesmo erro de gosto ou não gosto, o importante é sempre tentar saber primeiro o que se quer e só depois procurar meio de o conseguir.