quinta-feira, setembro 27, 2007

Afinal o homem nem era assim tão mau como isso.

Lembrei-me agora do comentário que numa reedicção de um cd de motorhead: "Afinal isto nem era assim tão mau", ou coisa parecida. É que eu nem gosto muito de Motorhead, mas há coisas que não podemos deixar de dar razão.

domingo, setembro 09, 2007

Dividir para Dominar

Dividir para dominar. Uma regra que imperou durante toda a época colonial é agora novamente posta em acção. Não no espaço do “Outro” mas no lugar do “Eu”. Um povo unido entre si é sempre uma criatura monstruosa que dificilmente se pode controlar à nossa própria vontade. Se “o povo unido jamais será vencido”, a verdade é que nunca até agora as nações ocidentais se encontraram tão fragmentadas no seu interior. Não há uma identidade colectiva forte que faça os indivíduos sentirem-se parte de um grupo geral à escala nacional. O conceito de pátria caiu em desuso e parece-nos até mal que alguém o invoque, sob pretexto de se tratar de uma ideia “fascista” e reaccionária. Dentro dos nossos países está, portanto, cada vez mais, a desaparecer a consciência de nacionalidade. O que existe são pequenos grupos, associativos, ligados a causas temáticas, e que possuem uma voz relativa naquilo a que chamamos de democracia. Estes grupos de identidades são no fundo os fragmentos que constituem a renda societária, mas que contribuem mais para a divisão do todo do que para a sua unidade. Se existem relações de cooperação entre alguns, outros ignoram-se entre si, e outros ainda disputam entre si pequenas questões sempre ligadas a demonstrações do poder que cada um possui (um poder raramente revolucionário, mas mais de esferas de influências e de redes de compadrios). Não há nada, em nenhuma circunstância, que mobilize todos estes pequenos grupos para um mesmo objectivo comum. Isto porque à semelhança das ideologias, as grandes causas desapareceram das últimas gerações. Contentamo-nos com o sistema político “perfeito” que estamos convencidos ser o que possuímos. Porque é isso que nos é dado todos os dias pelos mass média e pela socialização de que somos alvo, como um dogma que jamais poderemos por em causa.

É esta fragmentação da sociedade em células de pequenos grupos, ou mesmo familiares ou individuais, que o nosso poder político se baseia para poder dominar. À medida que a sociedade cresce (não por via do aumento dos nascimentos dos autóctones, que se sabe serem catastroficamente diminutos, mas por via da imigração massiva), esta divisão dos indivíduos é fundamental para que o “monstro” se torne dominável. “Dividir para dominar” continua a ser uma máxima do “príncipe” tão maquiavélico como a própria personagem, já que é pela fragmentação das identidades grupais em pequenas células, que se desmobiliza os indivíduos de agir e até de pensar. Reservam-se assim as catedrais do consumo, centros comerciais e hipermercados, para o gasto “supérfluo” de energias nocivas à manutenção do sistema. Se em algumas épocas históricas se procurava lutar contra o sistema, neste momento toda a energia é gasta em tentar entrar no sistema e ser aceite por ele. O sistema é mau, mas ficar fora dele é pior. Lutar contra ele é suicídio. Vivemos dominados pelo medo de não sermos aceites. De ficarmos de fora, de não arranjarmos emprego, de não termos casa, de passarmos fome. Ou seja, estamos preocupados com as nossas necessidades básicas. A vida não está assegurada para ninguém. Não há supostamente censura, não há supostamente perseguição política, mas vivemos dominados pelo medo. E este medo vem da insegurança que o actual estado de coisas nos provoca. O Estado cada vez mais se demite das suas obrigações para com os seus cidadãos. Estes por sua vez possuem cada vez mais obrigações do que direitos. O medo é neste momento, o mecanismo gerador de estabilidade social. Não provém das mesmas situações que no passado ditatorial, mas provém de novos mecanismos sociais repressores que agem no indivíduo de forma mais ou menos consciente. Esses mecanismos são essencialmente a dependência dos indivíduos do sistema para a sua própria sobrevivência. A economia de mercado capitalista fez as pessoas dependerem totalmente do trabalho assalariado para sobreviver. Não há maneira de escapar disso. Por outro lado os níveis catastróficos de desemprego desarmam-nas completamente de poderem agir contra o que quer que seja, e destituem-nas do que mais sagrado há na sobrevivência que é a capacidade de lutar por ela mesma. A protecção social é diminuta, a família adquire cada vez mais, menor importância. O individualismo é-nos imposto pelo sistema como uma condenação ao degredo. Um individualismo em que é cada um por si e cujo assassínio dos Deuses não permite que alguém seja por todos. O Homem pós-moderno, é um homem reduzido à consciência de ser unicelular. É um Homem agorofóbico, sem referências protectoras da sua condição frágil na vida. Somos crianças envelhecidas prematuramente que permanecem crianças mesmo após a idade adulta. E somos nós as células deste tecido social doente, sedento de renovação e de transformação, mas que a sua desfragmentação cultural e inconsciência política, a sua anomia paralisante e castradora não permite a realização daquilo que todos nós secretamente desejamos. Fica a ideia de que decerto um dia lutaremos com as armas que nos restarem então. E nesse dia acordaremos para uma nova realidade que já é sonho dentro de nós.