segunda-feira, junho 18, 2007

Rótulos e classificação

Actualmente assiste-se a uma confusão por parte da nossa sociedade no que toca à selecção de bens, ideias, actos, etc., na ausência de um rótulo que permita facilitar o trabalho de identificação do conteúdo do objecto de identificação.

As pessoas parecem ter perdido a sensibilidade de emitir um juízo avaliador e delegam esse trabalho nos profissionais especializados neste tipo de assuntos.

Por exemplo, uma pessoa pode chegar ao ponto de lavar as embalagens que tem como destino a reciclagem, com a melhor das intenções e sem poder ser condenada, se não levarmos em conta o consumo de água, mas por outro lado, usar papel para limpar a casa em vez do tradicional pano ou esfregão. Este tipo de comportamento, surge porque enquanto a questão da reciclagem é publicitada e já foi interiorizada como sendo um comportamento cívica e politicamente correcto, o uso do pano ou outro método tradicional é "socialmente virgem", ou seja não existe opinião social sobre ele, estando ultrapassado higienicamente quando comparado com o papel superior por ser descartável. O mesmo se passa no que respeita à utilização do automóvel dentro das cidades quando comparado com o "demonizado" tabagismo.


Pois esta situação aparentemente devida à especialização, e provavelmente a outras coisas, deixa cada vez menos tempo e paciência, e diminui os hábitos de nos envolvermos em assuntos comuns com os quais não estamos em contacto no nosso mundo quotidiano.


Seria absurdo vender embalagens com produtos perigosos sem a devida identificação e sem se poder proceder a uma identificação rigorosa. No entanto, no que toca às questões ideológicas que dirigem a nossa sociedade é perigoso que sejam tratadas da mesma forma. A publicidade tal como a propaganda tendem a centralizar a atenção dos públicos mais no rotulo do que no conteúdo através da utilização dos chavões de sucesso, e exacerbar maniqueísmos quando chega aos momentos de escolhas. É muito fácil termos uma opinião sobre determinado conflito ou caso divulgado pela comunicação social, sobre as questões ambientais, o aquecimento global, a agenda dos governos, conflitos sindicais, etc. Raras vezes tomamos noção que na maior parte das vezes esta nossa opinião chega até nós através da opinião de um comentador de actualidade, que resume os factos dos acontecimentos e os traduz de forma clara e de consumo rápido à sociedade em geral. Basta que experimentemos analisar uma situação que não seja alvo de projecção mediática, e que não seja "digerida" pelos comentadores de serviço para se perceber que a decisão se torna muito mais complicada. Uma escolha em consciência é uma coisa trabalhosa, requer estudo, envolvimento, actuação, viragens de opinião e por vezes alguns actos de fé. No entanto, sempre consciente, para que posteriormente possa ser reconsiderada caso surjam novos dados, e evitar que se caiam em fanatismos.


Se pudesse apontar uma fragilidade da democracia, num país em que um cidadão pensa que um líder do PS Madeira, em campanha eleitoral, é partidário do PSD, certamente iria optar por esta, pois que maior perigo existe para a democracia do que enferrujar as armas do povo.


Tudo isto porque surgiu em conversa com um amigo, quando discutia-mos que opções temos senão votar desesperadamente nas mesmas cinco alternativas, e lhe disse que alternativas existem sempre ou pelo menos temos possibilidade de as criar, que errado é pensarmos que o mundo se restringe àquilo que conhecemos ou que pensamos que existe, e que o importante não era indicar-lhe um nome de um partido, como se fosse uma marca de medicamentos, até porque quase ninguém tem exactamente as mesmas ideias, que isso o ia levar certamente ao mesmo erro de gosto ou não gosto, o importante é sempre tentar saber primeiro o que se quer e só depois procurar meio de o conseguir.

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