domingo, agosto 19, 2007

Do outro lado do espelho

Esta semana estive a rever o "V de vendetta" e fiquei com a sensação de que estive a dormir quando o vi pela primeira vez, já que não conhecia a obra em que foi baseado o filme.

Isto pode dever-se a ter visto o filme para primeira vez sem ter noção de que seria uma obra com um forte carácter intervencionista de âmbito politico-ideológico. Claro que era um filme que apelava aos instintos revolucionários de muitos de nós, mas é comum isso acontecer em muitos filmes que se ficam por aí. No entanto, desta vez já ia "com ela fisgada", especialmente porque tinha uma comichão de tentar perceber a fonte de todo este sentimento revoltoso que existe na nossa sociedade, e que parece aspirar apenas à destruição da nossa democracia, como se isso fosse o fim último. Parece que pior não podemos ficar, pelo menos é o que é dado a entender.




Pois desta vez a mensagem apareceu-me absurdamente clara, parecia que estava a olhar exactamente para onde devia olhar, o que nem era difícil desde o inicio. São este tipo de coisas que por vezes até nos fazem pensar se estamos a testar convenientemente a nossa percepção.


Conseguimos ver sempre o que nos põem à frente dos olhos mas apenas se já tivermos sido alertados para o "domínio" a que determinada coisa pertence. Por exemplo no filme 300, toda a polémica que antecedeu o lançamento do filme deixou a maioria das pessoas já preparadas para procurar sinais de uma determinada ideologia no filme (aposto que o sangue que aparece na imagem do 300 lhe parece mais grotesco do que o do V). No V de vendetta não aconteceu nada disso. Curiosamente são ambos baseados em obras de banda desenhada, mas de extremos diferentes.

No V de vendetta além do "ícone" do filme e do herói ser a inversão do símbolo anárquico (imaginem porventura se o do 300 fosse uma suástica), uma das coisas que me chamou mais a atenção foi o facto do herói matar policias brancos no papel de maus da fita. Bem que tentei procurar policias "multiculturais" mas não encontrei nenhum, eram realmente todos caucasianos. Quanto à população "escravizada" já era multicultura, como se pode ver no fim do filme, quando aparece uma daquelas cenas que mais parecem tiradas de um anuncio "todos diferentes todos iguais". No 300 o mau da fita é preto, ora mas é um filme que apela às diferenças étnicas, isso não é nada de mais, agora num filme multiculturalista os policias serem uma casta aparte é que é de estranhar, provavelmente existe alguma subliminariedade de algum tipo.

Outras mensagens de extrema esquerda do filme que destaquei, alem da previsível "anarquia no uk", são:
- Os terroristas são sempre rebeldes bons que através das mentiras dos governos de extrema direita passam sempre por maus da fita.
- O herói é um terrorista que usa um colete bomba, em clara inspiração dos bombistas suicidas muçulmanos.
- Um dos personagens rebeldes tem um corão em casa, e quanto a isso diz que não é muçulmano, mas que isso não lhe impede de apreciar a beleza das suas passagens e figuras (não sabia que o corão tem imagens, pensava que os muçulmanos eram contra isso). Ora o filme é extremamente também anti-clerical, logo esta simpatia islâmica traz água no bico. Aqui nota-se a ideia do inimigo do meu inimigo é meu amigo. Além disso apela claramente e tendenciosamente para um dos problemas com que os britânicos e todos os europeus se deparam hoje em dia, a invasão cultural islâmica, da qual a extrema esquerda e toda a facção esquerdista da comunidade europeia é a sua maior aliada.
- O cartaz com a bandeira dos EUA e do Reino Unido com uma suástica no meio, com o intuito que criar uma imagem negativa desses países, que associado com os policias todos brancos, pode interpretar-se como os grupos mais nacionalistas e defensores da cultura desses países, e como sabemos esses dois países tem sido até aqui os mais acérrimos defensores do ocidente. Mas aqui até se compreende, no 300 os traidores também são mortos à facada. ;)

Além disto achei engraçadas as inúmeras referencias à censura, provavelmente devido aos critérios editoriais da editora da bd. Ora confundir censura com a vontade do gajo que está a pagar a coisa parece-me absurdo. Se queria que fosse à sua maneira, tivesse pago e distribuído, provavelmente não ia muito longe.

Ora o que queria perceber mesmo era de onde vem esta inspiração revolucionária anti-regime que vivemos nos dias de hoje, porque parece-me que se for por diante, vai prejudicar mais do que ajudar alguém, alguém há-de ajudar, mas talvez não seja quem se espera. Acima de tudo porque é feita de forma velada, promovida por grupos de determinada ideologia, ao contrário das mensagens de extrema direita que são perfeitamente identificáveis.

Outra coisa será o facto dos anti-regime se limitarem a querer destrui-lo, sem se preocuparem em substitui-lo por qualquer coisa válida alem da anarquia, tal como no filme o herói não se preocupa minimamente com isso. Devido a isto a extrema-esquerda tem tendência a definir-se sempre por oposição à extrema-direita salvo raras excepções. Um exemplo é: "Se é cristão, sou muçulmano". Ora se a extrema-direita tem ideias bem delineadas sobre o que é, e a estrema-esquerda não, daí só podem vir estas atitudes de vizinhas de janela sempre a provocar e a tentar atrasar e irritar.

Quem serão verdadeiramente os maus da fita, será que é preferível um regime muçulmano com apedrejamentos de mulheres na rua à "ditadura" Britânico-Americana?

Esta parece-me que é mais a revolução do cavalo de Tróia do que de outra luta qualquer, e é nisto que consiste a subversão e o perigo da extrema-esquerda, é no fundo, quererem destruir a sociedade ocidental.

1 comentário:

Anónimo disse...

Descobri tardiamente este blog, mas mais vale tarde que nunca, e depari-me com esta boa análise comparativa entre dois filmes, que de alguma forma são emblemáticos do espírito da época e da dicotomia entre duas concepções do mundo distintas.

Gostei do que li e vou linkar o vosso blog. Parabéns!