sexta-feira, agosto 31, 2007

Reflexões sobre o fundamentalismo islâmico e o multiculuralismo Ocidental

O fundamentalismo islâmico [sunita], baseado como todos os fundamentalismos, numa leitura literal e manipulada dos livros sagrados, pode ajudar-nos a perceber e sentir aquele que foi o fundamentalismo cristão da Idade Média.
A partir do séc. IV/V, o esoterismo operativo do mundo ocidental perdeu-se, resultante da decadência do Império Romano e concomitante repressão religiosa, de tipo totalitário encetada pela nova religião oficial - um cristianismo ortodoxo (orto - recta; doxa - opinião) que nunca pretendeu renovar o ciclo anual das festividades, mas sim acabar com todo o culto não cristão (e ainda que se tenha absorvido muito das antigas práticas, perdeu-se a raiz esotérica desses cultos e dos simbolos a eles agregados, além de que se diabolizou toda a tradição pré-cristã do ocidente).
A perda, rejeição e diabolização do pensamento esotérico afectou, inclusivé, a área científica. Houve uma regressão profunda. Por exemplo, a esfericidade da terra encontra-se referenciada em muitos textos sagrados de povos antigos como no Popol-Vuh do antigo México pré-colombiano. No mundo clássico era afirmada por Pitágoras, Platão, Aristarco de Samos, entre muitos outros. Erastótenes calculou mesmo experimentalmentee o perímetro da terra, errando apenas em cerca de 200 quilometros. Contudo, essa teoria foi considerada pela corrente que vingou da Igreja Católica, como "falácia inventada pelo Diabo".
Ora, vivem-se tempos actuais em que esta incapacidade para aceitar o "Outro" está particularmente dinamizada pelo ódio de certos povos às culturas estrangeiras. Os motivos serão vários, sem ou com razão. Mas o problema é demasiado grave e requer mais do que meras opiniões e estudos laterais. Requer trabalhos antropológicos sérios sobre o tema.
Não poderemos no entanto fixar-mo-nos apenas de um lado da questão, e procurarmos somente as razões que levam umas culturas a odiar as outras, as quais desenvolvem muitas vezes complexos de culpa levando-as à submissão total face à raiva e agressões das primeiras. Quero com isto dizer que, respectivamente ao fundamentalismo islâmico, os ocidentais não podem continuar numa posição de "agachamento" face às agressões que vai sofrendo. Se o Islão requer entendimento, de igual forma as culturas ocidentais o necessitam, até porque já foram sobejamente agredidas no passado pelas sucessivas aculturações resultantes das invasões históricas que sofreram.
O multiculturalismo parece-me ser uma fórmula demasiado simplista e errada de resolver o problema, já que verdadeiramente não agrada a ninguém - nem ao Ocidente; nem ao Oriente. É precisamente contra a aculturação levada a cabo pelo Ocidente que o fundamentalismo islâmico se insurge. Eles não querem a roupa, nem os objectos, nem a comida, nem as ideias nem a religião do Ocidente. E estão no seu direito. Têm razão porque querem fazer prevalecer a sua identidade cultural. Mas e o "Ocidente"? esta mescla de estéticas já sem significação cultural própria de raiz? que dizer da atitude que se tenta cultivar nos povos europeus, por exemplo, onde um mesmo sujeito mistura em si comportamentos miscigenados e importados de vários pontos do globo, com os quais não tem nenhuma afinidade cultural, a não ser aquela que é veiculada pelos média? A aculturação dos ocidentais pelo "Oriente" está a ser levada a cabo desde que os contactos entre ambos se iniciaram. Há séculos que isso acontece. E isso foi positivo no enriquecimento do património cultural de todos, parece-me. No entanto, a forma massificada como isso se processa actualmente e a veemência com que o Oriente se impõe no contexto europeu, obrigando os ocidentais a conviver diariamente com hábitos de culturas estrangeiras, nunca trouxe perspectivas tão catastróficas para o seu futuro. Não pretendo sequer desenvolver a tese demográfica e genética que aponta mesmo para um desaparecimento total dos europeus em substituição de descendentes cada vez mais multi-raciais. Mas essa é uma das muitas questões que nunca são seriamente encaradas e que pelo contrário permanecem veladas à nossa consciência devido aos nossos complexos históricos ainda resultantes do nosso passado recente.
E porquê defender uma identidade cultural própria? Do mesmo modo que as pessoas necessitam de ter um passado em que se reconheçam, assim é também com as culturas, pois é pelo nosso passado que tiramos lições para o futuro. Aprendemos com as nossas experiências, reconhecemos o nosso rosto nos traços faciais dos nossos pais, sabemos o que herdamos de positivo e agradecemos-lhes por isso. A História fundamenta o presente. Saberemos quem somos, se não soubermos de onde viemos? Certo: não temos de viver de acordo com o nosso passado. Mas teremos de reconhecê-lo sempre que nos quisermos afastar dele. De um modo ou de outro, precisamos sempre das nossas tradições, dos nossos costumes, da nossa língua, da nossa forma de pensar, por todos os motivos indicados e, ainda, porque quando todos formos iguais ao "Outro" não vai haver "Outro" no mundo. Isto leva-nos à questão da massificação, que é em ultima instância aonde o multi-culturalismo nos conduz. o Multiculturalismo não é a aceitação do "Outro". É o seu desaparecimento, a sua morte. O "Eu" vai imperar sobre a Terra como um mar imenso de gente com o mesmo nome. Mas não vai ser o "Eu Ocidental" ou o "Eu Oriental" que vai ganhar esta guerra. Vai ser um "Eu" novo, sem passado, sem raiz, sem identidade verdadeiramente fundamentada. Vai ser uma "coisa" criada pelo poder que desde já está a ser posto em marcha pelo poder político. O Homem Novo, não vai saber de onde veio, nem para onde vai.


Sem comentários: