Manifesto anti-moral e sinteticamente (faria se fosse por extenso)
Por Inês Mariz que nem poeta é, quanto mais Tudo.
A moral é uma chatice.
A moral é uma obrigação.
A moral faz-nos caminhar pelo caminho
Que escolhemos como sendo aquele
Que queremos ou que achamos correcto,
Mesmo quando não temos coragem
De assumi-lo.
Morte à moral. Morte: PUM!
A moral é uma piroseira.
A moral usa pontos de exclamação!
A moral enfeita-se de sentimentos nobres
Numa época em que a nobreza
Já passou de moda.
A moral é um espelho
Que nos retrata tão fielmente
Que em vez da imagem catita
Que cumprimenta a vizinha do lado
(que por acaso tem uma filha bem bonita
e o marido é director de uma empresa de serviços
no Chiado)
E que paga a prestação do carro a tempo e horas
Como um cão fiel a lamber as botas do dono,
Eis que surge no espelho
Por virtude dessa puta da moral,
O nosso verdadeiro rosto:
Uma tenra e alva maçã light
Carcomida pelo bicho.
Sendo que o bicho só pode ser a moral
Porque nós ‘sermos’ corajosos e grandes
E politicamente correctos,
E ‘usarmos’ sapatos de salto alto.
Bicho? Mata-se a peçonha, mata-se já: PUM!
A moral é uma coisa tão ‘cota’
Que até dá consciência.
Sem moral até parece que somos livres…
A moral é uma prisão!
A moral agrilhoa-nos ao dever
De sermos superiores aos outros bichos,
repteis, e insectos rastejantes.
Abaixo a moral, abaixo!
Abaixo assinado,
A moral abaixo dos nossos pés.
Que ela nunca mais se levante,
Nem se sinta senhora do seu nariz,
E em vez de orgulho, sinta vergonha.
E nós cá de cima, a brilhar,
no nosso trono de lantejoulas baratas
com um prato na frente de carneiro com batatas, se fosse no século dezanove,
mas como é agora, serve feijoada na ponte.
Abaixo a moral, abaixo! – PUM!
A moral cheira mal dos pés
de tanto insistir em caminhar descalça.
A moral já nem dinheiro tem para comprar
Um par de sapatos.
Ela bem que podia ser rica.
Mas a desgraçada tem a arrogância
De se dar a ares de desprezo
Ao Sr. João mestre da grande loja,
Dos sapatos, claro está.
Fora com a moral. Fora. Uhhhhhhh
Por ser velha como a velha
Que cosia meias - Que coisa fora de uso! -
A moral tem macaquinhos no sótão,
E pulga atrás da orelha
E desconfia sempre
Da boa fé das pessoas.
Vivemos num tempo,
Em que tudo está tão invertido,
Que até a moral que antigamente era conservadora,
Tornou-se revolucionária.
A moral é um perigo.
Morra a moral morra. Pum!
(Do original, "Manifesto anti-dantas" que Almada de Negreiros escreveu. Inês parodiou).
3 comentários:
Morra. Viva a Ética, PIM!
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